Título: Brasil faz acordo de cotas com Uruguai
Autor: Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2008, Economia, p. B11

Brasileiros poderão vender 6,5 mil veículos e comprar 20 mil

Os governos do Brasil e do Uruguai fecharam ontem um acordo automotivo que passará a vigorar a partir de 1º de julho, segundo anunciou o secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Meziat. As regras acertadas vigorarão durante seis anos.

O acordo prevê uma cota de exportação de 6.500 veículos por ano do Brasil para o Uruguai e de 20.000 unidades do Uruguai para o Brasil. Meziat explicou que essas cotas já constavam do acordo que vence na próxima segunda-feira. Porém, o Uruguai nunca exportou um só veículo para o Brasil por não ter produção nacional.

Com a instalação da montadora chinesa Cherry no Uruguai, o Brasil deve receber, somente neste ano de 2008, cerca de 1.500 veículos da marca Tigo produzidos pela montadora chinesa.

Somente a venda dessas unidades aumentará em US$ 22,5 milhões as exportações uruguaias para o Brasil. A Cherry uruguaia terá uma capacidade de produção de 20 mil veículos por ano.

O secretário explicou que as cotas uruguaias valem para veículos que tenham conteúdo regional (peças produzidas no Mercosul) inferior a 60%. Acima desse porcentual, não existe cota de exportação de veículos do Uruguai para o Brasil.

Meziat anunciou também que haverá uma cota gradual para a exportação do Uruguai de veículos blindados para o Brasil. Neste ano, será a permitida a entrada no Brasil de 600 desses veículos sem o pagamento do Imposto de Importação, o que representará mais cerca de US$ 30 milhões em exportações uruguaias para o Brasil.

Meziat disse que essa cota será elevada anualmente de forma que, até o final da vigência do acordo, haja uma média anual de 1.200 veículos. O secretário disse também que a cota de exportação do Brasil para o Uruguai poderá ser revista, mas o coeficiente que balizará essa revisão ainda está sendo negociado.

MENOS ASSIMETRIAS

De qualquer maneira, o acordo fechado ontem prevê que a elevação da cota brasileira será proporcional ao aumento das exportações do Uruguai para o Brasil. Terão direito a uma cota maior as montadoras brasileiras que mais exportarem para o Uruguai .

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, explicou que o acordo automotivo tem como objetivo reduzir as assimetrias de comércio entre Brasil e Uruguai. Segundo Ramalho, o Brasil quer voltar a importar US$ 1 bilhão do Uruguai, como já ocorreu no final da década de 1990.

De janeiro a maio deste ano, as importações brasileiras do país vizinho somaram cerca de US$ 400 milhões.

Ramalho disse que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) poderá financiar investimentos para produção de autopeças no Uruguai. Segundo ele, o Brasil importa, por ano, US$ 10 bilhões em autopeças e apenas US$ 1 bilhão vem de países do Mercosul (principalmente Argentina).

¿Isso prova que há espaço para investimentos no setor no Brasil e no Uruguai, porque as fabricantes de autopeças poderão fornecer seus produtos para as montadoras brasileiras¿, afirmou Ramalho.

O secretário destacou ainda que o acordo, com validade de seis anos, diferentemente dos demais, que foram de curta duração, dá maior previsibilidade para os investidores.