Título: Fundos querem investigar o que aconteceu com a Agrenco
Autor: Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/06/2008, Negocios, p. B22

Além dos sócios minoritários, a CVM também vai apurar denúncias

Grandes fundos que compraram ações da Agrenco na oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) já procuraram o escritório de advocacia Bocater, Camargo, Costa e Silva Advogados para analisar o caso. O advogado Francisco Costa e Silva, ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), diz que ainda é cedo para falar sobre o assunto, e que o caso está sendo avaliado. A Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec) também já recebeu várias reclamações de investidores sobre o caso.

No dia 20 de junho, três dos principais acionistas da Agrenco, entre eles o fundador, Antonio Iafelice, foram presos na operação Influenza, deflagrada pela Polícia Federal. São acusados de crimes de estelionato, formação de quadrilha, lavagem de ativos, entre outros.

A prisão causou surpresa no mercado financeiro. Nas investigações, ela figura como vítima do esquema montado pelos três sócios. Isso porque é uma empresa pública, com ações negociadas na Bovespa desde outubro de 2007. Ou seja, os acusados estariam lesando os outros acionistas. A empresa, no entanto, já enfrentava problemas financeiros. Suas ações vinham despencando desde a abertura de capital. A dívida da companhia, uma das maiores exportadoras de soja do País, ultrapassa R$ 1,2 bilhão.

A CVM disse que vai investigar eventuais irregularidades nas informações financeiras fornecidas pela Agrenco nos balanços e no prospecto distribuído na abertura de capital.

Segundo fontes ligadas aos fundos de investimento, além do suposto esquema, eles também estariam intrigados com a revelação feita pelo Wall Street Journal, publicada no dia da operação da PF. A reportagem diz que 60% do dinheiro captado no IPO foi para o caixa do Credit Suisse (entre pagamento de dívidas, bônus e comissões). A Agrenco levantou R$ 666 milhões na abertura de capital.

O ex-presidente do Instituto Brasil de Governança Corporativa (IBGC), José Guimarães Monforte, é um dos conselheiros da Agrenco. Para investidores, seu nome funciona como um aval da credibilidade da companhia. Além de conselheiro, Monforte foi contratado como consultor para preparar a Agrenco para a abertura de capital. O acordo previa pagamento de R$ 75 mil, além de uma taxa de sucesso de 0,3% do valor da operação, o que dá quase R$ 2 milhões. Monforte não quis dar entrevista.

As ações da Agrenco, suspensas desde o dia 20 de junho, voltaram a ser negociadas ontem. O Credit Suisse, instituição que coordenou o IPO da companhia, aparece como o maior vendedor, seguido pelo JP Morgan e o Deutsche Bank. O Credit Suisse é um dos principais acionistas da Agrenco. Como retorno pelo empréstimo de US$ 150 milhões dado oito meses antes do IPO, o banco recebeu 6,9% das ações da companhia. Procurado, o Credit Suisse não quis informar se estava vendendo sua participação ou apenas papéis de clientes.

Ontem, as ações subiram 36,8%, cotadas a R$ 1,71. O retorno das negociações ocorre dois dias depois que o grupo francês Louis Dreyfus Commodities (LDC) anunciou um acordo que pode lhe dar o controle da Agrenco. O acerto dependerá de due dilligence, a análise detalhada das finanças da empresa.

A situação financeira da Agrenco não era desconhecida. No balanço do primeiro trimestre, há fortes sinais de preocupação. Uma das restrições era que o endividamento líquido da companhia não poderia ultrapassar US$ 600 milhões. No entanto, a administração da Agrenco obteve junto ao Deutsche Bank, West LB e Credit Suisse cartas de liberação das restrições.