Título: PT atropela aliados para manter domínio e cerca redutos da oposição
Autor: Samarco, Christiane; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2008, Nacional, p. A4

Partido disputará 20 capitais, até contra nomes governistas mais fortes, e investe para enfraquecer Serra e Aécio

O quadro da disputa pelas prefeituras das 26 capitais não deixa dúvida de que o PT atuou em duas frentes, de olho em 2010. Além de usar a montagem dos palanques municipais para manter sua hegemonia na base governista, o partido operou para enfraquecer seus dois principais adversários na sucessão presidencial: os governadores tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves.

Foi o que deixou claro a cúpula do PT, incluindo aí o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando decidiu lançar candidato próprio em 20 capitais, a despeito da pressão dos aliados para compor onde a opção petista não era a favorita na disputa. Quem acompanhou de perto a movimentação do presidente no processo eleitoral sabe que, na prática, ele só interferiu em uma capital - São Paulo - empenhando-se para fortalecer a candidata de seu partido, Marta Suplicy. E não foi por acaso.

Lula sabe que o sucesso de Marta na capital paulista pode render uma vitória tripla ao partido. Além de enfraquecer a pré-candidatura presidencial de Serra, impõe uma derrota aos dois principais partidos de oposição: o PSDB, que disputará a prefeitura com Geraldo Alckmin, e o DEM, que trabalha para reeleger o prefeito Gilberto Kassab.

¿Nossa vitória em São Paulo consolidará a vitória do PSDB no País¿, prevê o presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE). ¿Se não vencer em São Paulo e no Rio, a oposição sairá das urnas menor do que entrou¿, adverte o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), queixoso do ¿comportamento inflexível do PT¿ com os aliados.

BLOQUINHO

Todos entendem que a eleição municipal é o momento de os partidos investirem em candidaturas próprias para crescer. Mas é a sucessão presidencial que explica a razão dos ouvidos moucos da direção nacional do PT aos apelos sem muita convicção de Lula em favor dos aliados. O presidente sugeriu que seu partido compusesse em várias cidades com as legendas do chamado bloquinho (PSB, PDT e PC do B), aliadas tradicionais dos petistas no Congresso e nos palanques Brasil afora.

Foi para tentar um acerto em torno das prefeituras de Belo Horizonte, Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo que Lula reuniu, no Palácio da Alvorada, líderes e presidentes dos quatro partidos. O único resultado desse encontro foi um entendimento para beneficiar o PT paulistano de Marta Suplicy. O PC do B abriu mão de lançar o deputado Aldo Rebelo, agora vice de Marta, na expectativa de colher boa vontade dos petistas nas outras três capitais. Mas o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), não moveu um dedo para ajudar socialistas e comunistas.

Nem mesmo em Belo Horizonte, onde o prefeito petista Fernando Pimentel apóia a candidatura de Márcio Lacerda, do PSB. O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, esticou a corda o quanto pôde. Ameaçou até lançar candidato contra Marta Suplicy em São Paulo, depois de acenar com a possibilidade de uma aliança, com a deputada Luiza Erundina (PSB) na vice. Em vão.

O PT se recusou a permitir a participação oficial do PSDB de Aécio na chapa do socialista Lacerda, em Belo Horizonte. Mais: rejeitou qualquer aliança para reeleger o prefeito de Manaus, Serafim Corrêa (PSB), embora os socialistas apoiassem candidatos petistas a prefeito das capitais dos três Estados que o partido governa: Rio Grande do Norte, Ceará e Pernambuco. ¿O PT só gosta de aliança para ser apoiado¿, protestou Eduardo Campos à época.

CASO MOLON

Também foram inúteis as múltiplas propostas de apoio cruzado no Rio de Janeiro, a despeito da fragilidade eleitoral do deputado estadual petista Alessandro Molon. Ali, a batalha do bloquinho foi para que o PT apoiasse a candidatura de Jandira Feghali (PC do B), que depois de quatro mandatos de deputada saiu da briga por uma vaga no Senado, em 2006, com 2,7 milhões de votos, contra os 3,3 milhões de votos que deram a vitória a Francisco Dornelles (PP). Na eleição que lhe garantiu uma cadeira na Assembléia Legislativa do Rio, Molon obteve 85.798 votos.

Jandira queria Molon em sua chapa, como candidato a vice, mas nenhum representante da direção nacional do PT lhe fez qualquer apelo para que abrisse mão de uma candidatura com poucas chances de vitória.

O fracasso dessas negociações entre os governistas explica o porquê de o PT ser, disparado, o recordista de candidaturas próprias nas capitais. Nem o PMDB, maior partido e estruturado em 4.301 dos 5.564 municípios, tem tantos candidatos a prefeito de capital. Nas eleições de 5 de outubro, serão 13 peemedebistas contra 20 petistas. ¿A prioridade do PMDB não é a vitória em nenhuma cidade em particular, mas o bom desempenho no conjunto do País, para que o partido se mantenha como força política imprescindível a qualquer governo¿, diz o presidente nacional da legenda, deputado Michel Temer (SP).

Em seguida ao PT e ao PMDB vêm os dois maiores partidos de oposição: o DEM, que também encabeça a chapa em 13 capitais, e os tucanos, em 11. ¿Nosso parceiro preferencial continua sendo o PSDB, mas a vontade regional falou mais alto que a vontade nacional e as questões locais prevaleceram¿, resume o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Entre as legendas menores da base governista, o PSB vem em terceiro lugar, com sete candidatos a prefeito, empatado com o PPS, que faz oposição ao Planalto.