Título: Inflação bate aplicações no semestre
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2008, Economia, p. B1

IGP-M de 6,82% entre janeiro e junho supera a rentabilidade dos principais investimentos dos brasileiros

A inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) superou a rentabilidade das principais opções de investimento dos brasileiros no primeiro semestre. O indicador subiu 6,82% no período, ante alta de 4,55% da média dos fundos de renda fixa, que ocuparam o topo do ranking das aplicações financeiras. É a primeira vez que isso ocorre desde que o Estado começou a fazer o levantamento, em 1999.

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) valorizou 1,77% no intervalo. Contando apenas junho, o principal termômetro da bolsa brasileira despencou 10,43%, pior desempenho mensal desde abril de 2004.

¿Temporariamente, o investidor deverá ter paciência¿, disse o administrador de investimentos Fabio Colombo. Segundo ele, o novo ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), iniciado pelo Banco Central em abril, levará algum tempo para ter efeito nos índices de preços. Por isso, disse, ¿não há motivo para o investidor se apavorar¿.

Colombo também ponderou que, se for levado em conta o índice oficial de inflação do País (IPCA), boa parte dos investimentos ganha da variação dos preços. De dezembro a maio (o número de junho não foi divulgado), o IPCA acumula alta de 3,64%.

Está abaixo dos CDBs com mais de R$ 100 mil (que renderam 4,29% no período), da média dos fundos DI (4,15%) e da caderneta de poupança (4,09%). O IGP-M ainda é usado como referência para as aplicações porque é o índice que, entre outras coisas, corrige vários contratos da economia.

O ambiente internacional desfavorável foi outro fator determinante para o ranking em junho e no semestre. A crise imobiliária americana, a retração de crédito global e a alta da inflação na maioria dos países provocou fortes perdas nas bolsas, principalmente em junho.

O Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, deslizou 14,44% entre janeiro e junho, pior desempenho semestral desde 1970. Levando-se em conta somente junho, a queda de 10,19% foi a mais profunda em um único mês desde a Grande Depressão.

Em razão desse cenário, a Bovespa não repercutiu, como muitos esperavam, a concessão do grau de investimento ao País. ¿A obtenção da nota é boa, mas não se deve confundi-la com a idéia de que a bolsa subirá inevitavelmente¿, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

Colombo nota que a bolsa brasileira foi uma das que mais ganharam em dólar no semestre, graças à valorização do real ante a moeda americana. O dólar foi o lanterna do semestre, com perda de 10,03%. Ontem, fechou a R$ 1,597. O economista-chefe do Banco BNP Paribas, Alexandre Lintz, não vê espaço para nova rodada de valorização do real no segundo semestre. A projeção dele para a taxa de câmbio no fim do ano é de R$ 1,60 por dólar.