Título: BC pode ter mais tempo para pôr inflação na meta
Autor: Oliveira, Ribamar; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2008, Economia, p. B3

Anúncio sobre meta de 4,5% para 2010 não deixa claro se governo aceitará combate gradual ao surto inflacionário

A comunicação da meta de inflação de 4,5% para 2010, fixada ontem pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), criou forte ruído no mercado, pois indicou que o governo espera combater o atual surto inflacionário de forma mais gradual, num prazo mais longo. ¿O governo sinaliza de forma clara que pretende que a inflação convirja para o centro da meta (de 4,5%) no máximo até 2010¿, disse o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, encarregado de fazer o anúncio. ¿Esta é a sinalização clara que está sendo passada hoje (ontem).¿

De forma lacônica e admitindo ¿somente duas perguntas¿, Appy destacou que ¿o ritmo de convergência (da inflação atual para a meta) em períodos inferiores a isso (2010) é definido pela gestão do Banco Central, na condução da política monetária¿. Segundo ele, o CMN definiu a meta ¿na qual ele espera que a inflação esteja dois anos depois do período em que ela foi definida¿.

As palavras de Appy foram interpretadas como uma indicação de que o governo espera combater o atual surto inflacionário em um prazo mais longo de tempo, pois o próprio CMN tinha definido, no ano passado, uma meta de inflação de 4,5% para 2009. Como, agora, o centro da meta poderá ser alcançado ¿até 2010¿, haverá um prazo de mais dois anos para o BC, o que colocará menos pressão sobre a política monetária e sobre a taxa de juro.

Se essa interpretação estiver correta, o Banco Central não teria compromisso com a meta de 4,5% para 2009 e passaria a buscar um objetivo de inflação diferente, acima do centro da meta, como fez em 2005. Ninguém no Ministério da Fazenda ou no Banco Central se dispôs a esclarecer as dúvidas criadas pelas declarações de Appy.

A meta de 4,5% fixada pelo CMN para 2010 também tem um intervalo de tolerância de dois pontos porcentuais para cima e para baixo, da mesma forma que aquelas definidas para 2008 e para 2009. Appy disse que a mesma meta foi mantida porque ¿o desenho atual tem sido bastante satisfatório, bem sucedido e dado resultados bastante significativos para a economia brasileira¿.

Ao contrário dos anos anteriores, desta vez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não apareceram para explicar as razões que levaram o CMN a fixar a meta para 2010 em 4,5%. Não houve explicação oficial também para a ausência dos dois do comunicado da meta. A ausência de ambos pode indicar que surgiram novas divergências entre os dois sobre a melhor forma de combate à inflação.

Antes do início da reunião do CMN, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, indicou a preocupação do governo em não adotar medidas que possam comprometer exageradamente o crescimento econômico do País. Segundo ele, o governo já adotou várias medidas desde o início do ano para combater a inflação. Ele lembrou que o BC tem elevado os juros, que o governo aumentou o superávit primário, além de ter adotado medidas de restrição ao crédito (aumento do IOF).