Título: Ministério Público denuncia ex-reitor da UnB
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2008, Nacional, p. A6

Ele é acusado de peculato e formação de quadrilha no caso do desvio de verba da universidade

O ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Timothy Mulholland foi denunciado ontem pelo Ministério Público Federal por peculato e formação de quadrilha. Acusado de desviar R$ 470 mil de recursos de pesquisa científica para mobiliar o apartamento de luxo em que morava, Mulholland deixou o cargo em abril em meio a tumultos e à ocupação da reitoria por estudantes. Mulholland é acusado pelo Ministério Público de integrar organização para desviar recursos públicos arrecadados pela universidade e repassados às suas fundações de apoio.

O processo corre na 12ª Vara da Justiça Federal de Brasília. O ex-reitor disse que não cometeu nenhuma ilegalidade e que os bens adquiridos para o imóvel eram condizentes com a importância do cargo e não eram pessoais.

A denúncia refere-se a desvios ocorridos em convênios celebrados entre a Fundação Universidade de Brasília e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para prestação de serviços de saúde às comunidades indígenas ianomâmi, em Roraima, e xavante, em Mato Grosso.

A UnB, conforme o Ministério Público, subcontratou, sem licitação, a Fubra e a Funsaúde para executar as atividades. No total, foram repassados à UnB e às duas fundações cerca de R$ 67 milhões.

O dinheiro, porém, teria sido usado "para satisfazer interesses pessoais dos denunciados, como pagamento de festas, viagens, jantares, móveis e compra de eletroeletrônicos para uso particular", na versão do Ministério Público.

O esquema de desvio funcionava, segundo o Ministério Público, por meio do recolhimento de uma suposta taxa administrativa pelas fundações de apoio.

Assim, cerca de 7,5% dos valores totais repassados pela Funasa eram depositados em uma conta bancária à parte. Os recursos não integravam a contabilidade das fundações e eram movimentados de forma paralela, sem qualquer controle por parte dos dirigentes das entidades de apoio.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, a editora da UnB atestava a execução de serviços supostamente realizados nos projetos xavante e ianomâmi para justificar a manipulação do dinheiro.

CARTÕES

O caso do ex-reitor ganhou visibilidade na esteira do escândalo dos gastos que envolveu a então ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que pediu demissão em 1º de fevereiro depois da revelação de irregularidades no uso de seu cartão corporativo.

Reportagem do Estado de 13 de janeiro mostrou o crescimento dos gastos com os cartões do governo e apontou que Matilde tinha sido a recordista de despesas em 2007. Matilde pagara com cartão R$ 175.428,55 em aluguel de carros, além de tê-lo usado em free shop.

Nos últimos anos, a UnB tem sido a campeã nos gastos com cartões corporativos entre as universidades e faculdades federais.