Título: Para Gabrielli, preço do petróleo vai continuar alto
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2008, Economia, p. B7

Presidente da Petrobrás atribuiu explosão do preço ao aumento dos custos e da demanda é à especulação

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, alertou ontem que o mundo terá de se acostumar a conviver com os altos preços do petróleo. Segundo ele, nos últimos meses, a demanda e os custos de produção explodiram e por isso, a pressão inflacionária do setor vai continuar.

Além disso, informou, há uma falta mundial de materiais para a exploração de reservas e de mão-de-obra especializada. "Produtores de aço, construtores de navios e de gasodutos podem ter problemas para atender à demanda", disse.

Segundo Gabrielli, também faltam aço e outros componentes, o que tem provocado aumentos nos preços desses materiais. O resultado é o encarecimento da produção e a manutenção dos preços altos do petróleo. "Precisamos repensar a relação entre os produtores e os canais de distribuição", disse ele.

"Para incrementar a produção, a partir de agora os custos serão maiores. Cada barril extra custará mais para ser produzido do que um barril explorado no passado. Isso é um sinal de que, para o futuro, não devemos esperar uma queda dramática no preço internacional, pois os custos vão aumentar", afirmou.

No caso do Brasil, o executivo alerta que os investimentos para explorar reservas na camada pré-sal serão "enormes". "Sabemos que temos muito petróleo a ser desenvolvido, mas precisamos de muita infra-estrutura para tudo isso e de um novo modelo de produção. Vamos precisar, por exemplo, de 72 novos tanques e 146 barcos. Uma das limitações será mesmo o incremento no custo desses projetos", disse o presidente da Petrobrás.

"Esta é a realidade que temos que enfrentar. Mas, ao mesmo tempo, o futuro nos exige que coloquemos investimentos em novas infra-estrutura para ter acesso a novas reservas", afirmou.

Ainda assim, o presidente da Petrobrás garante que a exploração de petróleo no Campo de Tupi, na Bacia de Santos, seria economicamente viável mesmo se o barril despencasse nos próximos anos.

"Tupi é viável, mesmo com um preço do petróleo a um terço do que está hoje", afirmou o executivo, que ontem concluiu sua participação no Congresso Mundial de Petróleo, que ocorreu nesta semana, em Madri. Nos últimos dias, o barril esteve cotado em mais de US$ 142,00.

Quanto ao preço internacional do barril, Gabrielli alerta que o problema também tem relação com a demanda e a oferta. "Nos últimos dois anos tivemos um mercado apertado, com a demanda crescendo mais que a oferta", afirmou. Mas ele admite que, no curto prazo, a especulação também está tendo um impacto no preço.

BIOCOMBUSTÍVEIS

Gabrielli destacou que o aumento nos preços do petróleo abre a possibilidade para uma expansão do mercado do etanol. "Os biocombustíveis não vão substituir a gasolina, mas podem ter um papel relevante. O Brasil é o exemplo de que se pode expandir a produção de etanol e de alimentos ao mesmo tempo", disse.

Ele questionou, porém, a viabilidade do etanol de milho - produzido nos Estados Unidos -, que acabaria custando mais que extrair petróleo do Ártico.

Gabrielli admitiu que está preocupado com a possibilidade de o Brasil sofrer a "doença holandesa" por causa da descoberta de enormes reservas de petróleo. Ele acredita, porém, que a diversificação da economia brasileira impedirá que os impactos negativos desse fenômeno se proliferem.

O conceito se refere ao impacto que grandes descobertas podem ter em uma economia. A teoria aponta para possível desindustrialização dos países onde se encontra petróleo e a valorização exagerada da moeda local. Como conseqüência, o setor manufatureiro sofreria para exportar e poderia entrar em crise.

O termo foi criado nos anos 70 para explicar a queda no setor industrial holandês depois da descoberta de gás natural no país. "Estamos conscientes disso e há essa preocupação", afirmou. "Mas acreditamos que a economia brasileira é bem mais ampla que o setor do petróleo e que até mesmo o sistema tributário não depende do setor", disse.

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