Título: Bogotá nega pagamento de resgate
Autor: SantAnna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2008, Internacional, p. A23

Chefe do Exército jura ?pela honra militar? ser falsa a versão de rádio suíça de que reféns foram soltos por US$ 20 milhões

O comandante das Forças Militares colombianas, general Freddy Padilla de León, negou ontem enfaticamente que os 15 reféns resgatados na quarta-feira tenham sido entregues em troca de dinheiro, e não graças a uma "infiltração" da inteligência militar no comando das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). A Rádio Suisse Romande, emissora estatal com sede em Berna, divulgou a versão de que Gerardo Aguilar, codinome César, comandante do acampamento onde estavam os reféns, teria recebido US$ 20 milhões para entregá-los.

"Posso jurar como comandante das Forças Militares e por minha honra militar que o governo da Colômbia não pagou um só peso, um só centavo", disse Padilla. O general argumentou que, se essa versão fosse verdadeira, o Exército e o governo não teriam problemas em assumi-la: "Isso teria sido mais demolidor no interior das Farc, teria sido um incentivo para que outros se somassem à desmobilização que nós estamos privilegiando. Teria sido um troféu."

Ao afirmar que o governo da Colômbia não pagou nada, Padilla não desmente diretamente a versão do jornalista Frederich Blassel, da emissora estatal suíça. Citando uma fonte anônima "próxima aos acontecimentos, fiel e provada em reiteradas ocasiões nos últimos anos", o jornalista afirma que o dinheiro teria sido pago pelo governo dos EUA. Mas o embaixador americano em Bogotá, William Brownfield, negou: "Não demos nem um dólar, nem um peso, nem um euro."

O ministro colombiano da Defesa, Juan Manuel Santos, disse que a operação foi "100% colombiana" e não houve pagamento: "Essa informação é totalmente falsa, US$ 20 milhões até teria sido barato, porque teríamos oferecido até US$ 100 milhões."

Os EUA teriam um interesse especial em libertar os reféns americanos Keith Stansell, Thomas Howes e Marc Gonsalves, que seriam não funcionários civis contratados pelo Departamento de Defesa, como divulgado, mas agentes do FBI, a polícia federal americana, emprestados à Agência de Combate às Drogas (DEA); ou, segundo outra versão, agentes da CIA, o serviço secreto americano. Seu avião caiu - ou foi abatido pelas Farc, segundo a versão da guerrilha - em fevereiro de 2003, quando eles faziam vôo de reconhecimento no Departamento de Caquetá, no sul do país.

O piloto Tom Janis e um sargento colombiano que também estava no Cessna foram fuzilados pelos guerrilheiros.

A fonte de Blassel afirma que os militares colombianos chegaram até César por meio de sua mulher, Nancy Conde. Conhecida pelo codinome Doris Adriana, ela foi presa em fevereiro pelo Exército colombiano em Cúcuta (no Departamento Norte de Santander). O jornalista diz que, segundo sua fonte, as negociações não envolveram as Farc como organização, mas apenas César.

Comandante da Frente Primeira das Farc e considerado o seu "carcereiro-mor", César gozava da total confiança do chefe militar do grupo, Victor Julio Suárez Rojas, codinome Mono Jojoy. A versão do Exército de que teria convencido o experimentado guerrilheiro de que uma fictícia organização não-governamental internacional viria buscar os reféns e levá-los para o comandante das Farc, Alfonso Cano, causou incredulidade.

O Exército garante que sua inteligência se infiltrou no "secretariado" (comando) das Farc e simulou até uma autorização verbal de Cano para que os reféns fossem deslocados de helicóptero. Dois outros aspectos da versão do Exército a tornam ainda mais espetacular. Os militares teriam convencido César a juntar os 15 reféns, que estavam em três acampamentos, distantes 50 quilômetros entre si.

Além disso, César e seu número 2, Alexander Farfán, codinome Enrique Gafas, teriam aceitado, de última hora, entrar no helicóptero que levaria os reféns e ainda entregar suas pistolas, sob o argumento de que se tratava de uma "missão humanitária internacional".

Na quinta-feira, o comandante do Exército colombiano, general Mario Montoya, expôs César e Gafas à imprensa, num quartel da Polícia Militar em Bogotá. Com o olho direito coberto por um hematoma e outros ferimentos no rosto, César não quis responder às perguntas dos jornalistas, assim como Gafas. Montoya defendeu a aceitação do pedido de extradição dos guerrilheiros, feito pelos EUA, por suposto envolvimento em narcotráfico - além do seqüestro dos três americanos. Os dois guerrilheiros estão sob custódia do Ministério Público.