Título: Voloex foi investigada por golpe
Autor: Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2008, Economia, p. B12

Policiais do Deic suspeitaram que empresa havia praticado estelionato

A Voloex Participações e Investimentos Ltda. foi alvo de outra investigação feita pela polícia de São Paulo. Constituída para que o empresário chinês Lap Chan e o fundo de investimentos Matlin Patterson exercessem a opção de compra das ações dos então sócios brasileiros da Variglog, a Voloex esteve na mira dos policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic). Os policiais verificavam se a empresa não fazia parte de um golpe, um estelionato, feito para garantir que os ex-controladores da Varig excluíssem os sócios brasileiros - Marco Antônio Audi, Marcos Haftel e Eduardo Gallo - sem que fosse preciso achar novos sócios brasileiros.

O Estado revelou ontem que a Voloex teve como origem uma empresa, a Health Translating, investigada pelo Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) em um inquérito que apurava a conexão Brasil-Angola de tráfico de drogas. A Health foi comprada por Lap Chan em uma operação arquitetada pelo escritório do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O que os policiais do Denarc não sabiam é que, ao mesmo tempo, investigadores do Deic haviam colocado em sua mira a compra da Health, ocorrida em 6 de setembro de 2007. Com capital de R$ 1 mil, a empresa passou a contar com capital de R$ 3,1 milhões em 26 de novembro.

O Deic pediu mandado de busca e apreensão para revistar a sede do fundo Matlin Patterson, na Vila Olímpia, na zona sul de São Paulo, e para as casas de Lap Chan e do argentino Santiago Born, representante do Matlin no Brasil. Os policiais também queriam averiguar o endereço da Voloex, cuja sede era um conjunto comercial no centro. Eles não sabiam que o conjunto estava vazio.

"Novo objeto, nova razão social e o capital alterado para quantia 500 vezes maior que o original, fatos estes que são no mínimo bastante estranhos e ensejam melhor apuração, dando a entender ser esta uma empresa ?laranja?, criada apenas para violar as leis", escreveu o delegado Mauro Guimarães Soares, do Deic, no pedido encaminhado à Justiça estadual.

A promotora Alessandra Andrez Borowski concordou com o pedido, mas o juiz Vinicius de Toledo Piza Peluso negou, pois não se trataria de tentativa de estelionato, mas de crime federal. O juiz afirmou que os fatos podiam eventualmente caracterizar delitos "inclusive contra o sistema econômico-financeiro nacional" e decidiu que tudo fosse enviado à Justiça Federal, onde está nas mãos da procuradora da República Elizabeth Mitiko Kobayashi.

DEFESA

A defesa do empresário Lap Chan e do advogado Roberto Teixeira informaram que o inquérito do Deic foi fruto de mais uma ação do advogado Marco Antônio Audi, ex-sócios da VarigLog. A constituição da Voloex foi registrada na Junta Comercial e não há nada de irregular no negócio. O criminalista Mário Sérgio de Oliveira disse que João Agostinho da Costa, o Jean, dono das empresas de transporte Afrocontinental e Atlantic Star sempre cooperou com a polícia - foi investigando essas empresas que a polícia chegou à Voloex. "Jean forneceu informações que permitiram à polícia apreender 50 camisas engomadas com cocaína e de uma bicicleta com a droga. Já investigaram as empresas e nunca acharam nada. Ele foi vítima de uma denúncia sem fundamento."