Título: Brasileiro busca opções na batalha contra a inflação
Autor: Lacerda, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2008, Economia, p. B8

Aceleração dos indicadores deixou para trás a maioria das aplicações financeiras no 1.º semestre

O engenheiro Nelson Nunes investe, há cerca de dez anos, em fundos de renda fixa e DI. "Tenho perfil conservador, também tenho uma caderneta de poupança", diz ele. Mas, nos últimos dias, Nunes leu todos os jornais e sites sobre finanças que pôde: estava apreensivo ao ver que todos os investimentos perderam para a inflação no primeiro semestre.

O Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) subiu 6,82% e superou a rentabilidade das principais opções de investimento dos brasileiros. "Essa semana vou ver o que ocorre no mercado. Ainda não mexi em dinheiro algum, mas talvez opte por um fundo de ações." A idéia de Nunes é entrar na bolsa em um momento de baixa e esperar que volte a subir.

Assim como o engenheiro, muitos brasileiros ficaram em dúvida sobre o que fazer com suas aplicações após a aceleração da inflação. Segundo os especialistas consultados pelo Estado, títulos do Tesouro federal e investimentos de renda fixa pós-fixados são as melhores opções. "Títulos do Tesouro indexados pela inflação mais fundos DI e outros pós-fixados são a composição mais interessante atualmente para uma carteira de investimentos", diz o consultor de finanças Marcos Crivelaro.

Os títulos do programa Tesouro Direto atrelados a índices de preços (IGP-M e IPCA) garantiram aos investidores uma das melhores rentabilidades do mercado financeiro no primeiro semestre do ano. Os títulos atrelados ao IPCA, as NTN-B, acumularam no primeiro semestre rentabilidade entre 3,11% e 7,49%.

"Acredito que atualmente esse é o investimento mais seguro", diz o professor de finanças da ESPM Marcio Gabrielli. "Afinal, é corrigido pela inflação, que é a grande preocupação atual." Outra opção são as LFTs, que têm rendimento semelhante aos fundos DI, porém sem a taxa de administração (apenas a corretagem no momento de compra e venda).

Além dos títulos, os investidores devem procurar os fundos DI, que acompanham a taxa de juros. "Como a taxa de juros tende a subir quando a inflação sobe, esses fundos também devem ter um rendimento interessante", diz Gabrielli. O professor aconselha evitar fundos de renda fixa e fundos de ações.

"Os primeiros podem não ter o rendimento esperado, e os outros estão em um momento muito arriscado." Quem já investiu nesses fundos, no entanto, não deve se desesperar. "A migração pode custar mais caro, então é melhor esperar um pouco."

Crivelaro acredita que a bolsa possa estar passando por um momento de baixa que se reverterá. "Não creio que volte aos níveis recordes, mas pode ser a hora para quem quer entrar. Mas sabendo que é uma opção arriscada."

POUPANÇA

Para o analista, chegou o momento para que os investidores mais conservadores, que utilizam apenas a caderneta de poupança, busquem novas opções. "A poupança rendeu menos que a metade da inflação. Não digo para tirar todo o dinheiro, mas de 20% a 30% dele para experimentar em outros investimentos", diz Crivelaro. O rendimento foi tão pequeno que ele brinca: "Se for colocar na ponta do lápis, mais vale estocar alimentos com longo prazo de validade para revender do que deixar o dinheiro na poupança."