Título: Lula quer falar aos ricos com a força dos Brics
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2008, Economia, p. B11

Brasil se apresentará como um dos atores principais na solução dos atuais dilemas da economia mundial

O governo brasileiro vai se apresentar na cúpula do grupo dos países ricos mais a Rússia (G-8), na terça e quarta-feira, em Hokkaido, Japão, como ator central na solução dos atuais dilemas da economia mundial e também como aliado de uma nova corrente diplomática do mundo emergente: a união desenhada pelo grupo dos Brics, letras iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China.

A aposta num mecanismo político por meio do qual os Brics possam expressar suas posições sobre temas em debate nos foros mundiais assemelha-se à criação do G-20, grupo de países emergentes criado para ter mais força nas negociações agrícolas da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O primeiro encontro de chanceleres dos Brics ocorreu na Rússia, em maio.

Os sinais da posição mais cômoda do Brasil na reunião do G-8 surgiram em junho, no encontro de ministros de Economia dos sete países mais ricos e a Rússia, para a qual foram convidados Brasil, China, Coréia do Sul, África do Sul e Tailândia. Segundo o embaixador Marcos Galvão, secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, houve clara percepção de que o Brasil "faz parte da solução dos problemas da oferta (mundial) de alimentos", dada a sua competitividade e seu potencial de expansão da produção.

Galvão afirmou que também houve consenso de que as receitas adotadas no País para combater a inflação são "mais fundamentadas" que as de outros países emergentes, que optaram por soluções heterodoxas, como Argentina e México.

Mesmo com maior peso diplomático e cobranças legítimas a fazer em Hokkaido, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de desperdiçar tempo. Na semana passada, na Argentina, Lula comentou com colegas do Mercosul que não pretendia participar da reunião do G-8 deste ano, mas reconsiderou porque tinha o que dizer aos países mais ricos.

Em 2007, Lula igualmente apostou no diálogo com os líderes do G-8 e do G-5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México), em Heilingedamm, Alemanha. Mas saiu de lá irritado porque o G-8 ignorou o documento que continha as posições sobre temas delicados ao mundo em desenvolvimento: liberação dos investimentos diretos, reabertura das discussões sobre a quebra de patentes em casos de risco à saúde pública e compromisso de redução de emissão de gases poluentes.

Os líderes do G-8 foram além dessa omissão ao divulgar uma declaração final sobre Crescimento e Responsabilidade na Economia Mundial, que trazia o suposto apoio do G-5. O documento do G-5, entretanto, dizia o oposto. Contrariado, Lula propôs que, em Hokkaido, o G-8 e o G-5 se reunissem antes da discussão reservada apenas aos oito grandes.

O governo japonês, anfitrião do encontro desta semana, parece não ter escutado Lula. O G-5 somente se juntará ao G-8 no final da reunião.