Título: Uribe ganha apoio para 3º mandato
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Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2008, Internacional, p. A10

Pesquisa feita após libertação de reféns mostra que 77% da população quer nova reeleição do presidente colombiano

O sucesso do resgate dos 15 reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) transformou o colombiano Álvaro Uribe num adversário político imbatível na Colômbia e o presidente com mais chances de romper a polêmica barreira do terceiro mandato na região. De acordo com pesquisa da revista Semana divulgada ontem, 77% dos colombianos apóiam uma segunda reeleição do presidente. Em abril, esse índice era de 56% apesar de, na época, a aprovação de Uribe já ser de 84% (agora está em 91%).

Se as eleições fossem hoje, o segundo lugar ficaria com a ex-senadora e ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, refém resgatada na quarta-feira e maior símbolo da luta por um acordo humanitário com as Farc. Ingrid teria 9% com Uribe no páreo, mas seria a candidata favorita, com 31% dos votos, caso ele desistisse de concorrer. Quando foi seqüestrada, em 2002, Ingrid era candidata à presidência e tinha apenas 2% das intenções de voto

O presidente colombiano até agora ainda não se pronunciou oficialmente sobre uma nova reeleição, mas seus aliados estão recolhendo assinaturas entre a população para pedir que o Congresso debata uma emenda constitucional sobre o tema.

Hoje, a Carta colombiana só permite ao presidente se reeleger uma vez. Uribe pode tentar mudar isso por meio do Legislativo ou de um referendo - opção que parece favorável a ele. No último caso, o presidente precisaria de 7,5 milhões de votos. Em 2006, Uribe foi eleito com 7,4 milhões de votos - o equivalente a 62% do total.

Em 2003, a população rejeitou a primeira reeleição em consulta popular. O presidente só conseguiu aprová-la por meio de uma emenda constitucional no Legislativo, que começou a ser contestada na semana passada, quando a Suprema Corte pediu uma investigação sobre o processo de votação. O motivo seria o fato de a ex-congressista Yidis Medina, cujo voto foi decisivo para a aprovação da emenda em 2004, ter admitido que só apoiou a proposta depois que aliados de Uribe lhe ofereceram cargos públicos.

A crise política, porém, parece ter perdido o fôlego quando os reféns foram resgatados. Segundo a Semana, 69% da população dá a Uribe razão em seu embate com a Suprema Corte colombiana, enquanto só 23% estão do lado do tribunal.

APELO DE FIDEL

Se Uribe está em ascensão, as Farc estão perdendo o apoio até de líderes latino-americanos que costumavam manifestar simpatia pelo grupo. Depois de o venezuelano Hugo Chávez declarar que "o tempo da guerrilha" acabou, ontem foi a vez do líder cubano Fidel Castro pedir que as Farc libertem todos os seus reféns "sem nenhuma condição".

"Critiquei com energia e franqueza os métodos objetivamente cruéis do seqüestro e da retenção de prisioneiros na selva", escreveu Fidel. "Não estou sugerindo a ninguém que deponha as armas, porque nos últimos 50 anos os que o fizeram não sobreviveram à paz. Mas que simplesmente declarem por qualquer meio à Cruz Vermelha Internacional a disposição de colocar em liberdade os seqüestrados e prisioneiros que ainda estejam em seu poder sem condição alguma", completou.

Ainda ontem, o ministro de Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, acusou o emissário suíço para o diálogo com as Farc, Jean Paul Gontard, de ter feito negócios envolvendo US$ 500 mil com a guerrilha. Segundo Santos, havia indícios da entrega do dinheiro para os rebeldes no computador pessoal do guerrilheiro Raúl Reyes, morto em março. A Suíça esclareceu que Gontard não é seu diplomata mas um "assessor externo".