Título: Fazenda já projeta alta maior das tarifas
Autor: Goy, Leonardo; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2008, Economia, p. B3

Serviços indexados a IGPs devem subir mais do que se esperava

A equipe econômica já incorporou ao cenário inflacionário um reajuste maior nos preços administrados neste e no próximo ano. O Ministério da Fazenda não divulga suas projeções, mas fontes informaram ao Estado que os números previstos para os preços administrados são próximos dos calculados pelo Banco Central (BC)no último relatório de inflação: 4% para este ano e 4,5% para 2009.

Os economistas do governo avaliam, porém, que a dinâmica dos reajustes de hoje é diferente da que era registrada nos tempos de inflação alta.

No passado, em momentos de disparada dos índices gerais de preços, os preços administrados tinham forte alta e deixavam o IPCA bem mais salgado. Mas, nos últimos anos, com a revisão dos contratos e a desindexação de muitos deles, essa correlação entre os IGPs e os preços administrados diminuiu sensivelmente.

Hoje, parte significativa dos contratos é reajustada com base em índices específicos que medem o aumento dos custos de produção, e não mais simplesmente pela variação dos IGPs. Isso faz com que o cenário de inflação ao consumidor para os próximos anos, apesar da forte elevação dos índices gerais (que nos últimos 12 meses superaram dois dígitos), seja um pouco menos preocupante.

O Ministério da Fazenda fez uma análise detalhada dos preços administrados: computou a variação individual de cada item e elaborou projeções. Nos combustíveis, a correlação com o petróleo em disparada é óbvia. No caso de energia e telefonia, os técnicos avaliam que, apesar de situações como a da Eletropaulo - que em 2007 reduziu as tarifas residenciais em 12,66%, e neste ano ganhou da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um reajuste de 8,63% (como repasse do IGP-M) -, há uma série de outros que não demandam reajustes significativos e e será possível garantir a variação dos administrados ao redor dos 4,5%.

O reajuste da Eletropaulo, por exemplo, entrou em vigor sexta-feira passada. Segundo a Aneel, o IGP-M acumulou alta de 13,44% no período de julho de 2007 a junho de 2008, porcentual três vezes superior aos 12 meses anteriores.

No caso dos combustíveis, o governo demonstrou que não mede esforços para segurar, o quanto pode, o repasse da alta do petróleo para o preço da gasolina. Prova disso é que reduziu a alíquota da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide) em maio para amortecer o aumento de 10% anunciado pela Petrobrás para a gasolina vendida nas refinarias. Não tiveram a mesma sorte, porém, grandes consumidores que compram outros tipos de derivados, como o querosene de aviação e o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) industrial.

O combustível das aeronaves, por exemplo, acumula alta de 34,7% de janeiro a junho deste ano. Em 2007 inteiro, o querosene de aviação subiu bem menos, 12,72%. O GLP industrial, sem reajustes desde 2002, já passou por três este ano. O último, de 5,3%, foi aplicado pela Petrobrás em junho passado.

De uma maneira geral, a maior parte dos preços e tarifas direta ou indiretamente controlados pelo governo está passando este ano por reajustes superiores aos aplicados em 2007.

Além de pressionar a inflação futura, alguns desses aumentos estão sendo impulsionados, justamente, pela inflação acumulada nos últimos meses. É o caso dos pedágios das rodovias paulistas. A correção das tarifas é indexada ao IGP-M, que, neste ano, está subindo mais do que em 2007. No dia 1º de julho deste ano, a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) reajustou os pedágios em 11,52%. No ano passado, com o IGP-M menor, o aumento das tarifas foi de 4,4%.

O governo avalia que os choques externos ainda estão sendo absorvidos pela economia. Mas tão logo esse movimento pare, a elevação dos administrados deve ser cortada e o IPCA deve se acomodar e convergir para 4,5% em 2009 e 2010.

OS PREÇOS ADMINISTRADOS

Ônibus interestadual e internacional ANTT reajustou as tarifas em 6,396% a partir de 1.º de julho. Em 2007 o reajuste havia sido de 4,8%

Eletropaulo

Aneel autorizou aumento de 8,63% para consumidores residenciais, a partir de 4 de julho. Em 2007, a Aneel havia determinado redução de 12,66% nas tarifas residenciais

GLP industrial

Foram aplicados três reajustes ao preço do GLP industrial: de 15% em janeiro, de 10% em abril e de 5,3% em junho. De acordo com a Petrobrás, o último aumento no preço do combustível havia sido aplicado em 2002

Gasolina e diesel

Em maio, a Petrobrás aumentou em 10% a gasolina nas refinarias, o que não foi sentido pelo consumidor por causa do desconto na Cide. O preço do diesel foi reajustado, também no atacado, em 15%.

O último reajuste havia sido em 2005

Querosene de aviação

De janeiro a junho, o preço do combustível usado pelos aviões acumula aumento de 34,7%. Em 2007, o preço havia subido 12,72%

Telefonia fixa

A Anatel ainda não anunciou o reajuste, que deve vigorar a partir de 17 de julho. Mas, considerando o Índice de Serviços de Telecomunicações (IST), usado como indexador, as tarifas deverão subir até 4,46%. Em 2007, o IST teve alta de 2,91% e os reajustes variaram de 1,8% a 2,2% para ligações locais

Pedágios em SP

Os pedágios das rodovias estaduais paulistas foram reajustados em 11,52% no dia 1.º de julho. Segundo a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), as tarifas são corrigidas pelo IGP-M. Em julho de 2007, o aumento foi de 4,4%