Título: G-8 discute alta do petróleo e crise dos alimentos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2008, Economia, p. B5

Considerados urgentes, os dois assuntos devem ter prioridade no encontro que começa hoje no Japão

A alta dos preços internacionais do petróleo e dos alimentos consumirá, entre hoje e quarta-feira, boa parte da agenda dos líderes do grupo dos sete países mais ricos do mundo e a Rússia, o G-8. A reunião de cúpula anual do G-8, desta vez realizado em um resort na ilha de Hokkaido, no Norte do Japão, oficialmente será dedicada às questões climáticas - aquecimento global e definição de metas de redução de emissão de gases do efeito estufa até o fim do ano que vem (tarefa deixada pelos membros das Nações Unidas em dezembro passado, em Bali), para que possam ser aplicadas a partir de 2012.

Especial explica a crise dos alimentos

A fome, entretanto, falará mais alto. A resposta do G-8 para as conseqüências imediatas e visíveis do aumento dos preços internacionais dos alimentos deverá mais uma vez ser paliativa - a ajuda alimentar dos países ricos aos pobres. Não há expectativas de que sejam adotadas medidas efetivas para reduzir a especulação nos mercados futuros agrícolas e de petróleo, como regras de controle sobre os capitais voláteis ou eliminar os subsídios distorcivos concedidos pelas maiores economias do mundo a seus produtores rurais. A pressão dos países mais vulneráveis e dos organismos financeiros igualmente está posta na solução de curto prazo da ajuda alimentar.

O Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB, na sigla em inglês) alertou na semana passada que 1 bilhão de asiáticos gastam pelo menos 60% de seus salários com comida, e serão alvo de desnutrição por causa do aumento dos preços dos alimentos. A instituição planeja abrir uma linha de US$ 1 bilhão para financiar programas de reforma no setor agrícola este ano, dos quais US$ 500 milhões seriam desembolsados imediatamente para socorrer produtores mais pobres. A cifra deve dobrar em 2009. O Banco Mundial (Bird) deve destinar US$ 10 bilhões para programas para reduzir a fome e os custos de sementes e fertilizantes para produtores dos países mais pobres.

Além do plano emergencial, a alta dos preços internacionais do petróleo e dos alimentos tende a emergir nas discussões do G-8 pelo seu aspecto mais devastador para a economia e o bem-estar das sociedades - a inflação. Segundo o jornal britânico Financial Times, o presidente do ADB, Haruhiko Kuroda, advertiu que vários países asiáticos enfrentam o dilema de dosar a política monetária, de forma a controlar a inflação sem provocar excessiva redução da atividade econômica. Os índices de inflação em um ano, completou Kuroda, atingiram 7,7% na China, 7,8% na Índia, 8,9% na Tailândia e 27% no Vietnã.

O primeiro clamor contra a alta dos preços dos alimentos e do risco de fome nos países mais pobres virá da África. O Japão, que preside o G-8 neste ano, convidou sete países africanos - África do Sul, Argélia, Senegal, Gana, Tanzânia, Nigéria e Etiópia - e a União Africana para uma reunião logo após a abertura do encontro anual, hoje. As conversas serão acompanhadas pelo presidente do Bird, Robert Zoellick, pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, e pelo presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.

A discussão sobre o receituário mais adequado de combate à inflação deverá alcançar temperaturas altas na quarta-feira, o último dia da cúpula de Hokkaido. Para esse momento, serão convidados os líderes do G-5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México) e as chamadas grandes economias da Ásia e Oceania, que igualmente são vizinhos estratégicos para o Japão - a Austrália, a Coréia do Sul e a Indonésia. Todos esses países vivem, nos últimos meses, a escalada inflacionária e o combatem com diferentes instrumentos de política econômica. O México optou pelo controle de preços, enquanto o Brasil manteve o ajuste por meio da taxa básica de juros.

Como ocorreu nas últimas cúpulas do G-8, o Brasil e seus sócios do G-5 deverão realizar amanhã, em Sapporo, uma reunião para fechar posições comuns sobre os temas em debate. O G-5 e as três grandes economias da Ásia apresentarão suas conclusões somente depois de o G-8 ter chegado a seus próprios consensos, no mesmo dia. Com isso, as opiniões dos países convidados podem vir a ser novamente ignoradas. Em Heilingedamm, na Alemanha, no ano passado, os pontos de vista do G-5 sobre a mudança climática surgiram de forma distorcida no documento final do G-8, fato que gerou protestos.

Para esta cúpula do G-8, o Japão ofereceu um exemplo politicamente correto de preservação ambiental e convocou cerca de 20 mil policiais para realizar a segurança da pequena cidade de Toyako. O prédio reservado para a imprensa foi construído com conceitos ambientais e de uso eficiente da energia solar.