Título: Lobista do caso Paulinho deu R$ 201,7 mil para ONGs
Autor: Macedo, Fausto
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2008, Nacional, p. A9

PF suspeita que entidades seriam elo de esquema do BNDES com deputado

A Polícia Federal descobriu que o lobista João Pedro de Moura, homem de confiança do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP), fez três depósitos, no montante global de R$ 201,7 mil, nas contas bancárias das ONGs Meu Guri e Luta e Solidariedade. A PF suspeita que as ONGs teriam sido elo entre Paulinho e suposto esquema de desvio de verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No início da Operação Santa Tereza, que desmontou a trama no BNDES, a PF apurou a origem de apenas um repasse de Moura, no valor de R$ 37,5 mil, em favor da Meu Guri, que é presidida por Elza Pereira, mulher do deputado. Moura alegou ter feito uma doação à ONG.

A quebra do sigilo bancário das ONGs, decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos autos de inquérito sobre Paulinho, mostrou os outros dois depósitos, de R$ 82,1 mil cada, na conta da Luta e Solidariedade, que foi dirigida pelo metalúrgico Eleno Bezerra, aliado de Paulinho e vice-presidente da Força Sindical.

A investigação federal apontou a origem dessa parte do dinheiro: dois cheques emitidos pelo empresário Marcos Mantovanni, controlador da Progus Consultoria, Assessoria e Investimentos e suposto mentor do desfalque. A PF constatou que Mantovanni não fez os repasses diretamente à Solidariedade, mas entregou-os a Moura que, por sua vez, redistribuiu o dinheiro. A entrada na conta da ONG ocorreu em duas etapas, dias 18 e 28 de março.

Moura e Mantovanni são amigos e réus na ação judicial em curso na 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Moura foi conselheiro do BNDES durante quase 5 anos. Quando a PF o capturou, em 24 de abril, ele identificou-se como assessor de Paulinho.

A defesa dos acusados explicou que ambos receberam dinheiro a título de honorários pela elaboração de projetos com recursos do BNDES. "Na divisão de honorários, licitamente recebidos por serviços efetivamente prestados, Mantovanni entregou cheques a João Pedro", destacou Carlos Kauffmann, defensor do dono da Progus. "Quem tem que explicar (o destino do dinheiro) é o João Pedro. Nenhum depósito a essa ONG saiu do Mantovanni."

"João Pedro prestou serviços junto com Mantovanni na preparação do projeto relativo à expansão das Lojas Marisa e foi remunerado por isso", anotou o criminalista Frederico Crissiúma de Figueiredo, advogado do lobista. "Não houve qualquer tipo de irregularidade."

Leônidas Scholz, advogado de Paulinho, diz que o parlamentar jamais recebeu dinheiro do BNDES. Ele considera que "a PF diz muito e prova pouco".