Título: Inflação em alta eleva custo da dívida interna
Autor: Graner, Fabio; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2008, Economia, p. B4

Venda de papéis remunerados pela Selic é maior que a de prefixados; em maio, dívida cresceu R$ 20,9 bilhões

Neste ano de alta das taxas de juros e de aceleração da inflação, a dívida pública interna em títulos vem perdendo qualidade e ficando mais cara. Dados divulgados ontem pelo Tesouro Nacional mostram que, diante do preço cada vez mais alto cobrado pelos investidores para comprar títulos do governo federal, a participação de papéis com remuneração fixa (prefixados) caiu 3 pontos porcentuais na comparação com o mês de dezembro, atingindo 34,3% do estoque total. Esses papéis são considerados de melhor qualidade por trazerem previsibilidade ao desembolso de juros pelo Tesouro.

Por outro lado, a participação dos títulos corrigidos pela taxa Selic, que teve forte queda ao longo de 2006 e 2007, subiu 2 pontos porcentuais, representando 35,42% da dívida. Os papéis vinculados à inflação também ampliaram sua presença, passando de 26,26% para 27,37% do endividamento total.

Com juros e preços em alta, o custo da dívida já começou a subir, embora esteja ainda abaixo do nível de dezembro. De abril para maio, o custo médio da dívida passou de 12,53% para 14,2% ao ano, refletindo a variação mais salgada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M). Em dezembro de 2007, o custo médio estava em 14,52% anuais.

Somente em maio, o impacto total dos juros na dívida foi de R$ 12,39 bilhões. No período, o Tesouro também vendeu R$ 8,5 bilhões mais de papéis do que resgatou. A combinação desses fatores provocou aumento de R$ 20,9 bilhões na dívida, que fechou o mês em R$ 1,239 trilhão.

PADRÃO HISTÓRICO

A deterioração do perfil da dívida, na avaliação do professor de Economia da Unicamp e especialista em finanças públicas, Francisco Lopreato, reflete um padrão histórico, que faz sempre o sistema financeiro ganhar em detrimento do governo.

"Qualquer ameaça de perda para o mercado, o governo banca", afirmou, destacando que o forte volume de vencimentos de títulos em até um ano força o Tesouro a ceder às pressões.

Segundo ele, em momentos de bonança e de queda nos juros, o mercado corre para papéis prefixados e o governo atende a essa demanda. Mas, como não elimina os títulos vinculados à taxa Selic, quando há instabilidade econômica os investidores rejeitam os prefixados e forçam uma ampliação de títulos que valorizam com a alta dos juros.

Para o professor, o governo deveria ter feito um alongamento mais intenso da dívida e eliminado as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), atrelados à Selic, no período de bonança.

CUSTO MAIS ELEVADO

O coordenador de Operações da Dívida Pública do Tesouro Nacional, Guilherme Pedras, defendeu a gestão da dívida. Segundo ele, o governo reduziu a oferta de títulos prefixados por causa do custo mais elevado desses papéis cobrado pelos investidores. "O custo de prefixados aumentou. O ritmo da emissão de prefixados diminuiu por conta do custo", afirmou Pedras.

Ele destacou que o Tesouro não aumentou a oferta de LFTs para compensar esse movimento dos títulos prefixados, mantendo o volume de oferta de LFTs em torno de 1,5 milhão de títulos. Em vez disso, disse o técnico, o Tesouro fez resgates líquidos de prefixados, reduzindo seu colchão de recursos guardados para momentos de turbulência no mercado.

O coordenador destacou que, para uma melhor avaliação do quadro da dívida pública ao longo do ano, é preciso ter os dados de junho. Isso porque até maio houve dois grandes vencimentos de prefixados. Ele previu que na próxima divulgação, que deve ocorrer no fim do mês, a parcela de títulos prefixados vai aumentar.