Título: Conselho aposta em depoimento de delegado
Autor: Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2008, Nacional, p. A11

Rodrigo Levin foi convidado a falar no caso envolvendo Paulinho da Força

O Conselho de Ética da Câmara aposta no depoimento do delegado Rodrigo Levin, responsável pelo inquérito que apurou envolvimento do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, em esquema de desvio de verba do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para tentar cercar o parlamentar.

A data do depoimento depende da disponibilidade do delegado, porque ao Conselho não tem poder de convocação (só faz convites). Ficou decidido, porém, que Levin falará em reunião secreta, pois o processo está sob sigilo. ¿A vinda do delegado é imprescindível¿, disse ontem o relator do processo de cassação, deputado Paulo Piau (PMDB-MG). Ele espera que Levin esclareça como as investigações ligaram Paulinho ao esquema de desvio.

O próprio Paulinho, que depôs ontem pelo segundo dia consecutivo, será novamente ouvido pelo Conselho em reunião secreta. Segundo Piau, se for necessário, haverá acareação.

OUTRA VERSÃO

Ontem, na continuidade do depoimento (a reunião de terça-feira foi suspensa por causa dos trabalhos do plenário), Paulinho mudou a versão sobre a doação do apartamento para a ONG Meu Guri pelo ex-consultor do BNDES João Pedro de Moura, apontado pela Polícia Federal como um dos principais envolvidos no esquema. A ONG é presidida por Elza Pereira, mulher do deputado.

Paulinho havia dito que o depósito de R$ 37,5 mil de Moura para a ONG foi resultado de negociação envolvendo imóvel, que vale cerca de R$ 80 mil. Segundo ele, o imóvel doado não foi vendido pela entidade e acabou acumulando dívidas de condomínio e impostos. Moura, então, resolveu comprá-lo de volta por R$ 37,5 mil, pois a ONG não podia reverter legalmente a doação.

Ontem, porém, Paulinho afirmou que, na verdade, foi feita procuração para que Elza vendesse o imóvel e, com isso, reforçasse os recursos da entidade. ¿Foi um termo de cessão para a venda. Ele fez uma procuração para que a minha mulher vendesse o apartamento.¿

O deputado José Carlos Araújo (PR-BA) não se convenceu: ¿O apartamento não explica essa coisa (depósito de R$ 37,5 mil). O apartamento continuou no nome dele (Moura), a dívida era dele, bastava romper a procuração. Não entendi por que esse apartamento entrou no rolo.¿

Paulinho disse que o apartamento entrou na negociação porque o dinheiro de eventual venda seria revertido para as crianças atendidas pela ONG, e Moura não podia deixar a entidade sem o dinheiro. ¿Não era justo que ele pegasse o apartamento de volta. Foi uma compensação¿, argumentou.

O advogado do deputado, Leônidas Scholz, afirmou que Paulinho se equivocou no depoimento de ontem e que não houve doação com escritura do imóvel. ¿Houve um equívoco técnico-jurídico¿, disse. O deputado negou novamente envolvimento no esquema do BNDES.