Título: Irã testa mísseis de longo alcance
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2008, Internacional, p. A14

General diz que objetivo é mostrar determinação e poder contra inimigos; Teerã ameaça retaliar contra Israel e EUA

O Irã testou ontem nove mísseis de médio e longo alcance perto do Estreito de Ormuz, uma pequena faixa de água por onde passa 40% do suprimento de petróleo do mundo. Teerã vem reiteradamente ameaçando fechar o estreito e os testes provocaram um aumento de US$ 2 no preço do barril de petróleo.

O Irã também advertiu EUA e Israel de que está pronto para retaliar se for atacado por causa de seu polêmico programa nuclear. Israel - situado a mil quilômetros da fronteira iraniana - e muitas bases militares dos EUA no Oriente Médio poderiam ser atingidos por alguns dos mísseis testados ontem pela Guarda Revolucionária, entre eles o Shahab-3, de 2 mil quilômetros de alcance.

Segundo o general Hossein Salami, comandante da força aérea da Guarda Revolucionária, os testes tiveram como objetivo ¿mostrar nossa determinação e poder contra os inimigos, que nas últimas semanas ameaçaram o Irã com uma linguagem dura¿. Os EUA dizem que buscam resolver pela via diplomática a disputa sobre o programa nuclear iraniano, mas todas as opções estão sobre a mesa. Israel, por sua vez, indicou recentemente que poderia atacar as instalações nucleares do Irã.

O secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, declarou ontem que os EUA não estão perto de um confronto com o Irã. Mas ele e a secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, disseram que os testes de mísseis provam que o Irã é uma ameaça e destacaram a necessidade de um sistema de defesa antimísseis no Leste Europeu - ao qual a Rússia se opõe.

Especialistas militares russos deram pouca importância aos testes do Irã, afirmando que o país levará entre oito e dez anos para obter mísseis balísticos intercontinentais. ¿Estamos certos de que a indústria iraniana não está pronta para produzir os mísseis intercontinentais, contra os quais os EUA estão instalando um sistema de defesa na Polônia e na República Checa¿, declarou o general da reserva Victor Yesin.

A Casa Branca alertou que o Irã deve ¿abster-se de fazer mais testes de mísseis se realmente busca conquistar a confiança do mundo¿. O subsecretário de Estado William Burns disse à Comissão de Assuntos Exteriores da Câmara que o Irã obteve apenas um ¿modesto¿ avanço em seu programa nuclear, afetado pelas sanções da ONU.

Em Jerusalém, Mark Reguev, porta-voz do premiê Ehud Olmert, disse que ¿Israel não busca a guerra nem hostilidades com o Irã¿. No entanto, ele afirmou que ninguém na comunidade internacional deveria ser indiferente aos programas nuclear e de mísseis balísticos do Irã.

A França recebeu com ¿preocupação¿ os testes, enquanto a Grã-Bretanha disse que eles ¿só reforçam a inquietação sobre as intenções do Irã¿. A Alemanha lamentou que o Irã tenha respondido com um gesto de ¿má-vontade¿ a uma oferta de incentivos econômicos para suspender o enriquecimento de urânio.

OS CANDIDATOS E O IRÃ

Obama: O democrata reconhecei que o Irã é uma ameaça para a região, mas afirma que uma diplomacia direta com os líderes iranianos daria ao governo dos EUA maior credibilidade para pressionar por sanções internacionais mais duras. Se opôs à votação no Congresso que declarou a Guarda Revolucionária do Irã uma organização terrorista. Segundo ele, isso pode servir de pretexto para um ataque militar

McCain: O candidato republicano diz que um ataque militar talvez seja necessário porque, de acordo com ele, só há uma coisa pior do que uma guerra contra o Irã: um governo iraniano com armas nucleares. McCain também defende sanções econômicas mais duras e se opõe veementemente à idéia de uma diplomacia ativa e do diálogo de alto nível com o presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad