Título: Para a PF, banqueiro tinha apoio de políticos e técnicos
Autor: Manzano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2008, Nacional, p. A10

Organograma cita ministro, dois senadores e quatro ex-funcionários do alto escalão do governo

A Polícia Federal está convencida de que, para garantir a segurança e o bom resultado de suas operações, o banqueiro Daniel Dantas montou uma rede de influências para ter acesso a áreas importantes do governo e do Congresso. Nela estariam incluídos, segundo um organograma montado pela PF, um ministro, dois senadores e quatro altos funcionários de diferentes áreas da administração federal.

Sob o título Agentes Públicos e Políticos Associados, e diretamente ligado ao banqueiro, o organograma da PF traz um quadro com os nomes do ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, dos senadores Heráclito Fortes (DEM-PI) e Antonio Carlos Magalhães Jr. (DEM-BA), do ex-presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, de um antigo diretor de Inteligência da Receita Federal, Deomar Vasconcelos Moraes, de um gerente da Caixa Econômica em São Paulo, Mauro Osawa, e de Nivaldo Costa, do Serviço de Processamento de Dados do governo federal (Serpro). Estes dois últimos, aparentemente, pelo acesso que tinham a senhas e a informações nas áreas da Receita e da Administração.

Não há, nas páginas anteriores ou posteriores ao organograma, nenhum texto com fundamentação para o que é informado. Alguns dos nomes são conhecidos por terem sido envolvidos na Operação Chacal, que investigou espionagem feita pela Kroll Associates em áreas do governo, a pedido de Dantas, em 2005.

Em Londres, onde estava ontem à tarde, o ministro Mangabeira Unger não pôde ser contatado: estava entrando em um vôo para Boston, nos EUA, onde tem problemas familiares a resolver. Sua assessoria no ministério limitou-se a comentar que, ¿como é de conhecimento público¿, o ministro de fato atuou como trustee, nos Estados Unidos, para o grupo Opportunity e que ¿isso nada teve de ilegal e é um fato do passado¿.

No Senado, porém, os dois envolvidos reagiram com indignação à acusação que lhes faz a Polícia Federal. ¿Eu conheço sim o sr. Daniel Dantas, mas não tenho com ele nenhuma aproximação, nem intimidade. Nenhum episódio político nos liga e só posso atribuir essa invenção a uma sacanagem do PT, por eu ser de um partido da oposição¿, disse o senador Antônio Carlos Magalhães Jr.

Seu colega de partido Heráclito Fortes não só achou ¿absurda¿ a presença de seu nome naquele quadro como denunciou uma ¿evidente perseguição¿ de que está sendo vítima, há duas semanas, por parte de agentes de segurança do governo. Durante a semana, Fortes gastou tempo defendendo-se de acusações elo uso de jatinhos do banqueiro Dantas em viagens que fez ao Piauí, no passado. ¿Isso nada tem de ilegal e não tenho com ele qualquer ligação política ou pessoal¿, reafirmou ontem. Fortes é amigo, há tempos, de Veronica Dantas, filha de Dantas, e do vice-presidente do Opportunity, Carlos Rodemburg.

A perseguição de que é vítima, diz o senador, começou quando procurou o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, e lhe perguntou sobre rumores de que Verônica estaria prestes a ser presa. ¿Naquela mesma noite recebi um telefonema que me dava conta da irritação dele pela minha pergunta¿, diz Heráclito. ¿Até pedi à Mesa do Senado que escalasse agentes da Casa para me proteger¿.

Os outros quatro nomes citados pela PF foram mencionados, no início de 2005, na investigação sobre a Kroll. Cássio Casseb foi um dos principais alvos dessa operação da Kroll - dados pessoais, investimentos e transações financeiros dele foram então capturados. Os textos da PF na Operação Satiagraha não explicam sua presença, agora, ¿do outro lado¿, no Opportunity.

Mauro Osawa, da Caixa Econômica Federal, e Nivaldo Costa, do Serpro mas cedido à Receita, apareceram como intermediários que ganharam dinheiro passando informações à Kroll. ¿Passei sim, mas por amizade¿, disse Osawa na ocasião.

O último dos nomes, Deomar Moraes, trabalhou longo tempo como coordenador de Pesquisa e Investigação - nome da área de Inteligência da Receita Federal. Segundo relato da PF em 2005, ele ¿estaria trabalhando também para a Kroll¿. Hoje é auditor aposentado.