Título: País é pretexto para alta do petróleo
Autor: Pamplona, Nicola; Freitas, Tatiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/07/2008, Economia, p. B1
O Brasil entrou na lista de desculpas para a alta do petróleo, que ontem chegou a ultrapassar os US$ 147 por barril, em mais uma prova, segundo especialistas, de que a especulação é a grande responsável pelas altas cotações. O petróleo negociado em Nova York fechou a US$ 145,08 o barril, após atingir o recorde de US$ 147,27. Além de crises no Irã e na Nigéria, analistas apontaram a ameaça de greve dos petroleiros no Brasil como uma das causas da forte alta.
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, questionou a relação de uma greve no País com as cotações externas. ¿Essa é a prova de que as variações diárias no preço do petróleo não querem dizer muita coisa. As notícias acabam levando nervosismo ao mercado, independentemente do tamanho do significado delas. É mais criação de expectativas irracionais do que um retrato da realidade.¿
O jornal britânico Financial Times foi um dos que citaram, ontem em seu site, a greve brasileira como um dos fatores de pressão no mercado. Os petroleiros da Bacia de Campos, responsável por 80% da produção nacional de petróleo, anunciaram anteontem que iniciam, à meia-noite de segunda-feira, uma greve de cinco dias nas 36 plataformas da região.
Ontem, o sindicato da categoria reuniu-se com representantes da Petrobrás e com o Ministério Público do Trabalho, mas não houve acordo. Eles pleiteiam o pagamento do dia de desembarque das plataformas, hoje contado como folga. Segundo o coordenador do sindicato, José Maria Rangel, a proposta é que os dias gastos com desembarque sejam trocados por 1,5 dia de folga, a ser tirado com as férias.
Segundo Rangel, os petroleiros tentarão reduzir a zero o envio de petróleo ao continente. ¿Queremos produzir apenas o suficiente para manter as plataformas habitáveis.¿ O movimento grevista pode ser seguido por outras unidades da Petrobrás, que se reúnem terça-feira para discutir o tema. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), porém, reivindica aumento da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) proposta pela empresa.
Gabrielli disse que a Petrobrás está preparada para que uma eventual paralisação não afete o volume produzido pela estatal. ¿Vamos montar um plano de contingência e exigir condição mínima para manter a produção¿, afirmou, acrescentando que a companhia ainda está disposta a negociar.
Também para o professor da UFRJ Adriano Pires, o temor do mercado é exagerado. ¿O Brasil não é grande exportador nem grande consumidor de petróleo. Não vejo como pode afetar tanto o mercado.¿ Além disso, histórico recente indica que há chances de a ameaça grevista não se concretizar. A última vez que os petroleiros suspenderam a produção foi em 2001. Nos anos seguintes, houve acordo com a estatal.
-------------------------------------------------------------------------------- adicionada no sistema em: 12/07/2008 02:55