Título: Oposição argentina denuncia compra de votos no Senado
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2008, Internacional, p. A14
Suborno teria como objetivo garantir aprovação na quarta-feira de polêmico projeto de impostos do governo
A oposição argentina denunciou ontem que o governo está subornando parlamentares em troca de votos para garantir a vitória no Senado, na quarta-feira, do polêmico projeto de lei da presidente Cristina Kirchner que determina pesados aumentos de impostos sobre as exportações agrícolas.
Os impostos são o pivô de um conflito de mais de 120 dias entre o governo e o setor ruralista. A denúncia e as incertezas sobre o eventual resultado elevaram ontem ainda mais a tensão política no país. O projeto foi aprovado no dia 5 na Câmara dos Deputados.
Segundo a oposição, as modalidades de suborno vão desde a oferta de vagas em embaixadas, de cargos no Poder Executivo e o envio de fundos especiais para as províncias dos parlamentares. ¿Há um plano de troca de favores no Senado¿, acusou a senadora María Eugenia Estenssoro, da Coalizão Cívica. O senador e ex-presidente Adolfo Rodríguez Sáa comparou a votação de quarta-feira com outra ocorrida em 2000: a da lei trabalhista do governo de Fernando De la Rúa. Na ocasião, uma dúzia de senadores votaram a favor em troca de dinheiro, permitindo a aprovação da impopular lei.
Na votação desta semana, Cristina contaria com 35 senadores garantidos, enquanto a oposição, 30. Existem sete senadores indecisos, que são decisivos para definir o impasse.
Na votação anterior, na Câmara de Deputados, segundo investigações da imprensa, o governo conseguiu - na última hora - votos favoráveis por intermédio de troca de favores e até pressões pessoais ou aos cônjuges. Deputados que haviam declarado total oposição ao projeto da presidente, na hora de votar, favoreceram inesperadamente o governo.
Segundo estimativa da revista Notícias, o governo destinou US$ 650 milhões em fundos federais para as províncias para ¿convencer¿ os deputados a votar a seu favor. Uma pesquisa da revista indicou que 80% dos argentinos acreditam que o governo pagou os parlamentares para aprovar o projeto. A tensão cresce também entre Cristina e o vice-presidente, Julio Cobos, que é contra o projeto. Cobos é também o presidente do Senado e, em caso de empate na votação do projeto, poderia definir o impasse com seu voto. Nesse caso, a expectativa é de que ele favoreça os ruralistas.
`SUPERTERÇA¿
Enquanto isso, ruralistas e kirchneristas preparam-se para amanhã, quando a capital argentina será o cenário de duas grandes manifestações antagônicas. O ex-presidente Néstor Kirchner liderará a manifestação pró-Cristina na frente do Congresso Nacional. Na contra-mão, os ruralistas farão sua manifestação ao redor do Monumento aos Espanhóis, no bairro de Palermo. Eles esperam obter o respaldo da classe média portenha, que protagonizou diversos panelaços contra a presidente.