Título: Peru vira potência em gás natural
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2008, Economia, p. B6

Com 15 anos de regras estáveis no setor, país se prepara para superar a Bolívia em termos de reservas

Com estabilidade regulatória e boas perspectivas de descobertas, o Peru prepara-se para ultrapassar a Bolívia na lista das maiores reservas de gás natural da América do Sul, e deve ter papel preponderante no processo de integração energética do continente. De acordo com especialistas, o mercado peruano de petróleo e gás vive hoje momentos de euforia comparáveis aos experimentados pela Bolívia na virada da década, quando despontava como grande fornecedora regional de gás.

Segundo cálculos da consultoria GasEnergy, o Peru tem hoje reservas de gás que se aproximam dos 17 trilhões de pés cúbicos (TCF), ou 476 bilhões de metros cúbicos. Já na Bolívia, as reservas provadas somam 526 bilhões de metros cúbicos (18,8 TCF), embora o governo local trabalhe com um número bem superior: 1,3 bilhão de metros cúbicos. A diferença inclui reservas prováveis e possíveis não auditadas.

¿Hoje, as expectativas sobre a Bolívia vêm caindo, enquanto as referentes ao Peru estão em alta¿, diz o diretor da Gas Energy, Marco Tavares. Depois da nacionalização do mercado boliviano de petróleo e gás, em 2005, os investimentos no país caíram para cerca de 10% dos US$ 1 bilhão anuais registrados na virada da década. ¿Se continuar nesse ritmo, pode ser perigoso para o Brasil, que precisa de novas reservas na Bolívia para que o contrato de importação seja cumprido¿, diz.

No Peru, ao contrário, não há ameaças de nacionalização, pelo menos com o atual governo, aponta o consultor Erasto Almeida, especialista em América do Sul da consultoria americana Eurasia Group. ¿A percepção geral do Peru é de baixo risco político-regulatório e de um ambiente dos mais receptivos a investimentos privados¿, diz. O sistema regulatório do país já tem 15 anos de experiência, e sem grandes questionamentos, diz Tavares.

Um dos exemplos do bom ambiente é o projeto Peru LNG, investimento de US$ 3,8 bilhões tocado pela americana Hunt Oil, a coreana SK, a espanhola Repsol e a japonesa Marubeni. Com capacidade para liquefazer 14 milhões de metros cúbicos de gás por dia, a unidade foi concebida para fornecer gás natural liquefeito (GNL) em contratos de longo prazo para o México. Iniciativa semelhante foi tentada na Bolívia no início da década, mas a resistência da população culminou com a chamada ¿guerra do gás¿, que levou à nacionalização do setor.

¿O Peru pode tornar realidade o projeto de integração regional, mas uma integração diferente, sem grandes gasodutos e com GNL¿, destaca Tavares, para quem os grandes gasodutos já não figuram na preferência dos países compradores, uma vez que significam excessiva dependência de apenas um produtor. Foi o que aconteceu com o Chile e Argentina, intimamente ligados ao gás boliviano, que hoje enfrentam crises energéticas.

O Peru representa hoje 17,7% das reservas internacionais da Petrobrás, que tem no país andino 576 milhões de barris de óleo equivalente (somado ao gás). A produção média em 2008, diz a estatal, se situa em torno dos 14 mil barris de petróleo e 310 mil metros cúbicos de gás natural por dia.