Título: Doha ''é possível, mas não será fácil'', diz Amorim
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2008, Economia, p. B4
Perspectivas de acordo estão mais distantes após reunião de representantes do Mercosul ontem, no Rio
As perspectivas de um acordo próximo na Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, na semana que vem, parecem mais distantes após a reunião de ontem, no Rio, de negociadores do Mercosul. "Estou realista, achando que é possível, mas sabendo que não é fácil", disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, após o encontro preparatório para a reunião ministerial da OMC. Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai mantiveram a posição comum de que faltam "avanços substanciais na agricultura".
A rodada, iniciada em 2001, foi criada para isso. Mas, com o tempo, países desenvolvidos passaram a defender que os países em desenvolvimento cedam mais na abertura do setor industrial. A Argentina é que mais resiste. Na coletiva de imprensa, ao ser indagado sobre as chances de os países do Mercosul cederem na proteção à indústria, Amorim passou a palavra ao chanceler argentino, Jorge Taiana. "Insistimos que a possibilidade de resultado positivo, equilibrado e balanceado depende de maior esforço de países desenvolvidos", afirmou Taiana.
Para Amorim, a grande dificuldade são os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos, que, por "imprecisões no texto" proposto pela OMC, estão estimados entre US$ 13 bilhões e US$ 16,5 bilhões. "Houve mesmo retrocessos", disse Amorim, sobre o texto.
O chanceler entende que a crise mundial de alimentos deveria facilitar um acordo, "se os políticos fossem racionais". Ele afirmou que "os subsídios impedem a produção de países mais pobres". Segundo ele, no longo prazo isso diminui a produção.
O chanceler citou que "o Haiti foi convencido pelo FMI a parar de produzir arroz". Segundo ele, o País passou a comprar arroz subsidiado porque era mais barato. Agora, os preços subiram e o Haiti não produz mais. Ele apontou a possibilidade de novos itens entrarem na relação dos chamados "produtos sensíveis", os que podem ser objeto de cotas limitadoras de importações.
Para o chanceler brasileiro, a inclusão de novos produtos pode criar "graves prejuízos" e uma "caixa-preta" na OMC. "O motor da rodada é a agricultura", disse o ministro. De acordo com ele, é difícil avançar em outros assuntos sem que isso ocorra na agricultura.
O vice-ministro da Relações Exteriores do Uruguai, Pedro Vaz, afirmou, porém, que "a rodada está avançando", o que não significa que esteja fechada. De acordo com ele, é importante "ver os ganhos nesse pacote (de agricultura e indústria)". Ele afirmou ainda avaliar que é "possível chegar a um acordo geral, não com todos os detalhes, até o fim do ano".