Título: Brasil não está imune ao choque da inflação
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2008, Economia, p. B3

Apesar do alerta, Lamy diz que os emergentes estão mais resistentes

O Brasil não está imune a um choque inflacionário. O alerta é do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Ele destacou ainda que a queda do superávit comercial no País não deve ser alvo de preocupação e disse que as contas públicas estão ¿bem financiadas¿. ¿Os pobres estão um pouco menos pobres no Brasil e isso se traduz em consumo, com impacto sobre as importações.¿

Apenas em 2007, a expansão das importações brasileiras foi de 32%. Segundo a OMC, essa é uma das maiores taxas entre os principais atores comerciais. De acordo com Lamy, uma das grande diferenças da atual crise em relação às anteriores é a resistência das economias emergentes. ¿Mas isso só ameniza a crise, não evita.¿

Na avaliação de Lamy, o peso das economias ricas ainda é grande no cenário internacional, com impactos para todos. ¿Diante da interdependência, choques inflacionários se espalham por todo lugar e afetam todos os sistemas de produção¿, disse. ¿Os grandes países emergentes estão mais resistentes. Mas não estão imunes ao choque inflacionário¿, acrescentou. Tanto o Brasil como a Índia vêm experimentando taxas de inflação acima da meta fixadas pelos bancos centrais.

Lamy ainda alertou que a queda do superávit comercial no Brasil não deve ser, por enquanto, motivo de preocupação, insinuando que não seria justificativa para manter barreiras comerciais. ¿A queda do superávit não é um problema. Por enquanto, ela está bem financiada no Brasil.¿

Com o dólar em baixa, a balança comercial brasileira fechou os primeiro semestre com superávit de US$ 11,37 bilhões, apresentando queda de 44,7% em relação ao resultado do mesmo período de 2007.

¿Quando vejo os números do Brasil, o que percebo é que o País está aumentando de forma impressionante suas exportações, principalmente na agricultura. O Brasil está tirando proveito de sua competitividade e dos investimentos. Ainda se beneficia da abertura do comércio e do desequilíbrio no comércio de alimentos diante da maior demanda¿, afirmou Lamy.

Já do lado das importações, o diretor da OMC aponta que a alta ocorre por dois motivos. O primeiro seria o maior consumo doméstico. Outro fator seria o aumento na importação de equipamentos. ¿Há um aumento na importação de equipamentos que vai transformar a economia e mesmo a agricultura do País.¿

Ele se recusou, porém, a comentar o fato de o real estar valorizado, um dos fatores destacados pelos próprios técnicos da OMC como elemento que explica a queda do superávit comercial. ¿Não conte comigo para criticar políticas monetárias fortes¿, concluiu.