Título: Lula reage à saída de Protógenes
Autor: Nossa, Leonencio; Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2008, Nacional, p. A8

Presidente pede a ministro da Justiça volta de delegado e diz que ¿moralmente¿ ele deve continuar no caso

Preocupado com a repercussão provocada pelo afastamento do delegado Protógenes Queiroz do comando da Operação Satiagraha - o que foi recebido como indício de interferência política do governo na Polícia Federal -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem e cobrou a volta dele à investigação que levou às prisões do banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, do investidor Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e mais 15 outras pessoas.

¿Moralmente, esse cidadão tem de ficar no caso até terminar esse relatório¿, disse Lula, mostrando irritação com o que chamou de ¿venda de insinuações políticas¿ decorrentes da maneira como Protógenes deixou a operação policial. O presidente admitiu, quando deu a entrevista, no meio da tarde, que já havia falado com o ministro da Justiça, Tarso Genro, pedindo a volta de Protógenes.

Apesar das declarações de Lula, em tom de apelo político, a direção-geral da PF manteve a decisão de afastar Protógenes e nomear dois novos delegados para o caso: Ricardo Saadi, chefe da Delegacia de Combate aos Crimes Financeiros de São Paulo, e Erika Mialik Marena. Os dois foram confirmados em nota oficial, depois das entrevistas de Lula e dos telefonemas de Tarso.

No governo Lula, foi a primeira vez que um delegado deixou o comando de uma operação antes da conclusão das investigações. Protógenes responde a dois procedimentos disciplinares por violação de normas da corporação e pode sofrer sanções que vão da advertência à transferência para lugar remoto ou demissão.

O presidente exibiu toda a contrariedade com a saída de Protógenes ao ser questionado sobre a eventual motivação política por trás do afastamento do delegado: ¿Espero que quem contou essa mentira, de que eles foram pressionados, amanhã ou depois desminta¿. Referia-se, também, a outros dois delegados que deixaram a operação, Karina Murakami e Carlos Eduardo Pelegrine. Depois, relatou ter orientado pela manhã o ministro da Justiça a conversar com a PF para que o delegado ficasse no caso. ¿Esse cidadão não pode, depois de fazer todas as coisas que tinham de ser feitas no processo, deixar de finalizar o relatório¿, ressaltou. ¿Na hora de finalizar o relatório, esse cidadão diz: vou embora fazer meu curso, e dá vazões para insinuações de que ele foi tirado.¿

Ainda na entrevista, Lula afirmou que Protógenes só não volta ao caso ¿se explicar publicamente, e de livre e espontânea vontade, que não deseja continuar o trabalho de investigação¿. O delegado não veio a público para se manifestar.

CONFIRMAÇÃO

Apesar de o presidente ter dito que o delegado ficaria no cargo se quisesse, o ministro Tarso Genro, horas antes, em entervista no próprio ministério, havia dito que Protógenes não ficou no comando da Operação Satiagraha porque não quis. ¿Ele poderia continuar o trabalho, fazer o relatório. A saída foi um ato de vontade própria¿, afirmou. O ministro, mesmo entrando em contradição com o presidente, admitiu que a saída do delegado era ¿inconveniente¿ para o governo.

A direção-geral da PF soltou uma longa nota oficial no início da noite que não atendeu a Lula. Dizia que lamentava ¿a distorção dos fatos, o que só leva a confundir a população¿. Informava ainda que os delegados Ricardo Saadi e Érika Mialik assumem na segunda-feira os inquéritos da Operação Satiagraha. E que Protógenes está livre para participar do 22º Curso Superior de Polícia.