Título: CPI convoca Dantas, delegado e juiz
Autor: Scinocca, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2008, Nacional, p. A9

Comissão não vai chamar Greenhalgh, Nahas nem Gushiken; depoimentos só acontecerão em agosto

a Cumprindo acordo feito na véspera, a CPI dos Grampos aprovou ontem a convocação do banqueiro Daniel Dantas, do delegado da Polícia Federal que comandou o inquérito da Operação Satiagraha, Protógenes Queiroz, e do juiz Fausto De Sanctis, da 6 ª Vara Criminal Federal, que determinou as buscas e prisões.

Em votação simbólica, que durou 30 minutos, os integrantes da comissão de inquérito na Câmara aprovaram também outros requerimentos da pauta. Um deles é o que solicita à empresa Kroll - que teria sido contratada pelo controlador do Opportunity - os relatórios produzidos durante as investigações em torno da Brasil Telecom.

Embora tenham sido aprovadas as convocações do banqueiro, do delegado da Polícia Federal e do magistrado, a oposição não conseguiu manter na pauta os pedidos de convocação do ex-deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), do megainvestidor Naji Nahas - também detido pela Operação Satiagraha e libertado, depois, por uma liminar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes - e do ex-ministro Luiz Gushiken (Comunicação Social).

INTERCEPTAÇÕES

Greenhalgh foi flagrado por interceptações telefônicas, autorizadas pela Justiça para a Satiagraha, pedindo ao chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, para ¿dar uma olhada¿ no andamento da investigação contra Dantas, para quem advoga.

Já Gushiken denunciou, à época em que foi ministro do presidente Lula, ter sido vítima de grampo ilegal por parte da Kroll, contratada pelo banqueiro do Grupo Opportunity.

Minoria na comissão de inquérito, com apenas 8 dos 22 deputados, a oposição teve de ceder na véspera para ao menos manter a convocação de Dantas. ¿Há uma tendência do governo em tentar esfriar a CPI e a limitar as oitivas, alegando que o foco são os grampos ilegais. Mas não vamos aceitar censura¿, avisou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), autor do requerimento de convocação do banqueiro.

Na outra ponta, o relator da CPI dos Grampos, o deputado governista Nelson Pellegrino (PT-BA), insistiu na tese de foco nas investigações e anotou que a exclusão de Greenhalgh, Najas e Gushiken apenas estão relacionadas com o fato de os três não serem objetos centrais do tema da comissão.

Os deputados também definiram ontem o cronograma das oitivas. Devido ao recesso do Congresso, que oficialmente começa amanhã e termina no dia 31, os depoimentos vão ficar para agosto. Protógenes será o primeiro a ser ouvido, no dia 6 do mês que vem. Sanctis falará no dia seguinte e Dantas, apenas em 13 de agosto.

Oficialmente, os trabalhos da comissão terminam no dia 7 de agosto, mas o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), autorizou a prorrogação das atividades por mais 30 dias, estendendo, assim, os trabalhos até 7 de setembro.

O presidente da comissão, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), antecipou ontem, no entanto, que ele e os demais integrantes da CPI farão gestões junto ao presidente da Câmara para aumentar o prazo da prorrogação para mais 90 dias.

¿Aprovamos no plenário da comissão prorrogação de 120 dias, mas o presidente só liberou 30. Vamos batalhar para conseguir mais 90 dias de prazo para o encerramento dos trabalhos sem prejuízo à investigação que vem sendo feita¿, afirmou Itagiba.

REGIMENTO

O presidente da Câmara, por sua vez, justificou a sua decisão recorrendo ao regimento da Casa, segundo o qual apenas prorrogações de comissões de inquérito superiores a 30 dias precisam do aval do plenário para serem autorizadas.

Chinaglia afirmou ter concedido prazo extra de um mês porque, na época em que recebeu o pedido, não havia fatos novos, como a Operação Satiagraha, que justificassem ampliação maior dos trabalhos da comissão.