Título: Incidente em Israel causa mal-estar com Brasil
Autor: Kresch, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2008, Internacional, p. A18

Filha de embaixador brasileiro é detida em aeroporto por suspeita de ter origem árabe

O embaixador do Brasil em Tel-Aviv, Pedro Motta Pinto Coelho, enviou nota de protesto ao Ministério das Relações Exteriores de Israel pelo que chamou de ¿tratamento agressivo¿ recebido por sua filha, a estudante de medicina Laila Pinto Coelho, de 25 anos, no Aeroporto Internacional de Tel-Aviv. Laila foi detida por cerca de três horas, na madrugada de quarta para quinta-feira, quando desembarcava no país para uma visita de um mês.

Segundo o jornal israelense Yediot Aharonot, a filha do embaixador teve de passar por uma sessão de perguntas em razão de seu nome ter levantado suspeitas de ter origem árabe. O embaixador julgou estranho o suposto motivo, até porque, ironicamente, se inspirou numa canção popular israelense para chamar a filha de Laila (¿noite¿, em hebraico). ¿Quando tinha 13 anos, escutei a canção e me apaixonei pela melodia da palavra `laila¿. Mas mesmo que tivesse alguma ligação com o árabe, ela merece que a tratem dessa maneira?¿, perguntou o embaixador. ¿Foi um tratamento um pouco agressivo. O estranho é que já vim duas vezes ao país¿, disse Laila.

Mais do que a checagem do aeroporto, o que mais incomodou Coelho foi a agressividade das autoridades de plantão. Ao perceber que Laila demorava a passar pela imigração, ele foi ao encontro de sua filha no escritório do Ministério do Interior, de onde, segundo ele, foi expulso aos berros. A estudante e seu pai só deixaram o local depois da intervenção do Ministério das Relações Exteriores. A embaixadora de Israel no Brasil, Tzipora Rimon, deve prestar esclarecimentos em Brasília.

O Ministério do Interior israelense alegou que a grosseria partiu do embaixador. Na versão do ministério, Coelho ¿invadiu¿ a sala do funcionário de plantão, tentando pegar ¿à força¿ o passaporte de Laila. Em uma resposta mais diplomática, o primeiro-secretário da Embaixada de Israel no Brasil, Rafael Singer, afirmou que a chancelaria israelense está checando o que aconteceu e ¿sente muito¿ pelo incômodo causado à estudante e a seu pai.