Título: Amorim teme adiamento da Rodada até 2012
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2008, Economia, p. B3

No comando da UE, França não admite concessões e ameaça implodir qualquer liberalização no setor agrícola

O chanceler Celso Amorim alerta que um fracasso nas negociações da Rodada Doha poderia adiar um acordo comercial para pelo menos até 2012. Ontem, a França ameaçou implodir qualquer liberalização no setor agrícola, às vésperas do encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC) que está sendo considerado a última chance de acordo na Rodada Doha.

¿Os países precisam ter discernimento político. Se não houver um acordo nesta semana, certamente o processo todo será adiado por mais uns três anos, no mínimo¿, alertou Amorim, que ontem chegou a Genebra. Para ele, o segredo será a capacidade dos países de avaliar a situação como impasse político, e não apenas comercial.

Na avaliação do chanceler, um dos pontos mais críticos do processo será a pressão dos países ricos sobre os emergentes. Nos últimos dias, americanos e europeus têm insistido que economias como a do Brasil, Índia e China abram seus mercados para os produtos industriais.

Ontem, em Bruxelas, os franceses convocaram os ministros de Agricultura e Comércio da UE para alertar que, com o comando do bloco nos próximos seis meses, vão insistir que Bruxelas não faça nova concessão (ler abaixo). A OMC começava ontem a montar um esquema de guerra para garantir a segurança dos ministros e até para vender camisetas com mensagens a favor de um acordo.

Mas o alerta francês é feito ao mesmo tempo que países emergentes apontam que precisam de um maior acesso aos mercados agrícolas mundiais. Os europeus estão divididos, já que um grupo de países do bloco estima que está na hora de concluir um acordo comercial.

A França insiste que não há nada sobre a mesa que compense os esforços no setor agrícola. O presidente Nicolas Sarkozy alertou que o bloco perderia 100 mil empregos se o acordo fosse assinado. Para o francês, que teria o poder de vetar um acordo, Brasil, China e Índia precisam abrir de forma mais profunda seus mercados para bens industriais e serviços.

Ontem, a França tentou mostrar a unidade da UE. ¿Temos objetivos comuns, que é reequilibrar as concessões que a UE já fez¿, disse a secretária de comércio, Anne-Marie Idrac. ¿Queremos um reequilíbrio efetivo, não apenas cosmético. Já acabamos com todas nossas margens de manobra no setor agrícola. Não podemos ir além do que já foi oferecido.¿ Segundo ela, os exportadores europeus precisam de melhor acesso a certos mercados. Outro país que defende a manutenção das barreiras é a Irlanda. ¿Vamos defender nossa posição e ela será forte¿, disse o ministro irlandês, Dick Roche.

A Alemanha, porém, quer um acordo. ¿Vamos defender nossos interesses industriais¿, disse o secretário de Comércio alemão, Bernd Pfaffenbach.

Já Amorim destaca o novo papel dos países emergentes nas negociações. ¿Esse é um fator novo que pode transformar a forma de medir o peso dos países no cenário internacional.¿ Para ele, a formação dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) é uma clara tentativa de conter hegemonias. ¿O fortalecimento dos Brics seria uma das melhores formas de garantir um sistema realmente multipolar e evitar que uma hegemonia seja substituída por outra.¿