Título: Brasil e Uruguai discutem parceria em termoelétrica
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/07/2008, Economia, p. B8

Ministros dos dois países negociam construção de usina a carvão no Rio Grande do Sul, com potência de 350 MW, para atender ao país vizinho

Brasil e Uruguai negociam a construção de uma térmica a carvão no Rio Grande do Sul para atender ao país vizinho. O projeto, com potência prevista de 350 megawatts (MW), ainda está em fase inicial de avaliações, mas tem a simpatia do governo brasileiro, informou ontem o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Segundo ele, os uruguaios estudam o uso de novas tecnologias que reduzem os impactos ambientais.

¿Estamos dispostos a gastar 40% a mais na compra de tecnologias modernas, que reduzem a fumaça e a emissão de partículas¿, confirmou o ministro de Indústria, Energia e Minas do Uruguai, Daniel Martínez, que se reuniu ontem com Lobão na sede do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Bastante criticada por organizações ambientais, a geração de energia a carvão é apontada, por exemplo, como uma das principais causas dos altos índices de poluição atmosférica na China.

Antecipando-se às críticas, Lobão disse que o transporte do carvão brasileiro para gerar energia no Uruguai poluiria mais do que a construção de uma térmica em território nacional. ¿Ficaria um rastro de poeira no trajeto dos caminhões. O transporte de carvão é muito poluente.¿ A térmica deve ser instalada no município de Candiota, 420 quilômetros ao sul de Porto Alegre, perto das maiores reservas brasileiras do combustível.

A cidade já tem um grande parque térmico, operado pela Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), que investe na terceira fase da Usina Termoelétrica Presidente Médici, para ampliar a capacidade local de geração em 350 MW. Hoje, o parque tem capacidade de 446 MW.

Segundo Martínez, em paralelo ao projeto da usina, o governo uruguaio licita a construção de uma linha de transmissão até Candiota e de uma conversora com capacidade para 500 MW. O objetivo é ampliar a capacidade de importação de energia do Brasil, hoje limitada a 72 MW pela conversora de Rivera. O Uruguai tem capacidade instalada para produzir todos os 1,5 mil MW que consome, mas é muito dependente das chuvas, já que grande parte do parque gerador é hidrelétrico.

Ontem, Lobão e Martínez assinaram convênio alterando os termos de venda de energia. Até agora, o país vizinho pagava em dinheiro por energia térmica, mais cara. A partir de hoje, passa a receber energia hidrelétrica, que vai devolver durante os períodos de cheia em seus rios. O modelo é semelhante ao adotado com a Argentina, que, segundo Lobão, já devolveu cerca de 30% da energia importada do Brasil este ano.

No Uruguai, cerca de 60% da capacidade geradora está na usina de Salto Grande, que não tem reservatório para armazenar água para os períodos de seca. Outros 15% estão nas usinas do Rio Negro, que atualmente enfrenta um período de baixa vazão, informou Martínez. O restante é gerado por térmicas a óleo. A grande dependência da hidrologia levou o país a buscar alternativas de geração.

Além disso, o Uruguai vem recebendo apenas 2% dos 18 milhões de metros cúbicos de gás por dia contratados à Argentina. Os dois países trabalham em um projeto de construção de uma unidade regaseificadora de gás natural liquefeito (GNL). Segundo Martínez, a Petrobrás é uma das empresas interessadas em participar do empreendimento.