Título: Lula diz a ministros que não quer 'artificialismos' contra a inflação
Autor: Oliveira, Ribamar
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2008, Economia, p. B1

Presidente descarta congelamento de preços, como anunciaram nos últimos dias países como México e Uruguai

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem, durante reunião com ministros e economistas, a adoção do congelamento de preços para controlar a inflação, como fizeram nos últimos dias o México e o Uruguai. ¿Não quero artificialismos¿, disse ele, segundo relato de alguns participantes. Lula determinou a preparação de medidas de estímulo à produção agrícola, de forma que o Brasil colha safras recordes nos próximos dois anos.

¿A inflação será combatida com o aumento da oferta¿, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, após a reunião. ¿Estamos preparando uma grande safra.Aqui não vamos fazer nada disso (congelar preços).¿ Questionado sobre a eficácia das medidas adotadas por México, Venezuela e Uruguai, Mantega disse que não opina ¿sobre a política de países amigos¿.

Mantega garantiu que, na reunião, não se discutiu o aumento do superávit primário (economia para pagar juros da dívida) ou medidas para conter o crédito. ¿Já elevamos a meta de superávit de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto) para 4,3% do PIB¿, disse. ¿É difícil fazer mais do que isso.¿ Segundo ele, para obter 4,3% do PIB o governo terá de ¿cortar despesas este ano¿.

Mantega disse que não cogita reduzir o crédito, pois, segundo explicou, medidas já adotadas pelo governo, inclusive o aumento da taxa de juros pelo Banco Central, já encareceram o custo do dinheiro e estão reduzindo o consumo.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que também participou da reunião, afirmou que o País ¿poderá aproveitar a grande oportunidade¿ da forte demanda por produtos agrícolas para aumentar a produção. Segundo ele, o Brasil está sofrendo menos do que outros países o efeito da elevação dos preços dos alimentos e do petróleo, pois não depende das importações desses produtos.

Mercadante disse que a melhor resposta às pressões inflacionárias ¿é o crescimento da agricultura¿. Ele chegou a dizer que a idéia do governo é desenvolver uma política agrícola parecida com a do governo João Figueiredo, no fim dos anos de 1970, que cunhou a frase ¿plante que o João garante¿.

Esta semana, o governo do México anunciou o congelamento de preços de 150 produtos - entre eles farinha, café e feijão - até o fim do ano. A medida resultou de um acordo com a principal associação da indústria do país. O governo do Uruguai fechou acordo com os frigoríficos para congelar os preços de três cortes de carne bovina.

Durante a reunião de ontem, Mantega fez uma exposição sobre o quadro econômico. Ele disse que o mundo está sofrendo o maior choque de preços de commodities desde os anos 1970. Segundo ele, a inflação aumentou em praticamente todos os países do mundo e a alta dos preços afeta os alimentos, o petróleo e os minerais.

Os dados apresentados por Mantega mostraram que o preço dos alimentos subiu 14,6% entre maio de 2007 e maio deste ano, enquanto a inflação dos demais itens foi de 3,2%. Segundo o ministro, no entanto, ¿essa inflação é passageira e o governo impedirá que se propague aqui dentro¿. COLABOROU FERNANDO NAKAGAWA

ESTRATÉGIA DEFINIDA

Guido Mantega Ministro da Fazenda

¿A inflação será combatida com o aumento da oferta¿

¿Essa inflação é passageira e o governo impedirá que se propague aqui dentro¿

¿Já elevamos a meta de superávit (primário) de 3,8% para 4,3% do PIB. É difícil fazer mais que isso¿