Título: Qualquer ajuda fiscal é bem-vinda, diz Goldfajn
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/06/2008, Economia, p. B3
Contra inflação, ex-diretor do BC defende corte de gastos do governo, mas não acredita nisso
A política monetária tem sido ativa e é o principal instrumento de combate à inflação, mas algumas medidas poderiam ajudar o Banco Central (BC) nessa tarefa, disse ontem Ilan Goldfajn, sócio-diretor da Ciano Investimentos, ex-diretor do BC e professor da PUC-RJ.
¿Qualquer ajuda de política fiscal é bem-vinda, não só no aumento do superávit primário, mas na contenção de gastos. Mas esse tipo de medida não tem sido a favorita do governo nos últimos anos. Há aumento de gastos acima da inflação¿, avaliou.
Segundo ele, um corte de gastos do governo seria eficiente no combate à inflação, enquanto outras medidas, como congelamento de preços, recentemente adotado no México, só a reprimiriam. ¿O que o México fez foi simplesmente tampar a panela de pressão. Mas o fogo está ligado. É preciso medidas que deixem o vapor sair enquanto também desliga o fogo¿, comentou.
Para Goldfajn, medidas de cautela, como aumento da exigência do capital dos bancos, podem estar sendo estudadas pelo governo. Segundo ele, isso permitiria um crescimento mais criterioso do crédito ¿para que a qualidade não se deteriore e não tenhamos solavancos nos futuro¿.
Goldfajn acredita que o aperto monetário é uma maneira de evitar o repasse de preços do atacado para o varejo. Segundo ele, os repasses de curtíssimo prazo, decorrentes de choques de preços, são difíceis de combater. Ele defendeu que se evite a espiral inflacionária de salário e preços. ¿Um ponto relevante daqui para frente será ver se não haverá reajuste de salário na tentativa de compensar o aumento de preços¿, disse.
Goldfajn afirmou ainda que o relatório trimestral de inflação do BC, que será divulgado no fim do mês, ¿não será boa notícia¿. ¿Vai mostrar um segundo trimestre ruim. A projeção (IPCA) para o final do ano deve ter aumentado e para 2009 também, por causa da inércia.¿
Ele comentou ainda a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), no dia 30 de junho, que discutirá a fixação da meta de inflação para 2010, ano da sucessão de Lula. ¿Parece razoável manter o nível atual de 4,5%¿, disse. Para o ex-diretor do BC a tendência é de redução da meta, mas, diante da inflação, (o CMN) ¿vai ter que adiar um pouquinho¿, ainda que considere que ¿em 2010, a inflação pode estar resolvida¿.
Segundo ele, o importante será evitar ruídos, como do ano passado, por causa de divergências sobre a meta entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BC, Henrique Meirelles. ¿Eles têm que conversar e decidir no conselho, não na imprensa. Para Goldfajn, a inflação neste ano tende a ficar dentro da meta, entre 6% e 6,5%, mas não descarta a hipótese de superá-la.
LUCIANA XAVIER, CÉLIA FROUF e DENISE ABARCA