Título: Procuradoria de Milão denuncia 8 por espionagem contra Dantas
Autor: Godoy, Marcelo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/07/2008, Nacional, p. A4

Ao todo, 34 foram acusados por esquema que teria violado e-mails e pago propina, em meio a briga de telefônicas

A Procuradoria de Milão, na Itália, denunciou ontem um grupo acusado de participar de um esquema de espionagem que violou e-mails no Brasil e de pagar propina para obter dados de "serviço de informações na Itália e em outros países". O Brasil está na lista. A ação do suposto esquema começou em função da disputa entre sócios da Brasil Telecom (BrT) - Grupo Opportunity e Telecom Itália (TI) - pelo controle da empresa. A briga teve origem em 2000, segundo os procuradores italianos, quando a "Telecom Itália induziu a Brasil Telecom a adquirir a companhia CRT por um preço considerado exorbitante em relação aos valores acertados".

De acordo com a Justiça italiana, a empresa Kroll - a pedido do Opportunity - estava investigando as razões de a TI ter tentado induzir a BrT a comprar a CRT por um preço US$ 100 milhões a mais do que o acertado. A Telefônica, dona da empresa, teve de se desfazer da CRT depois de adquirir em leilão, em 1998, a Telesp e a Telerj celular. O primeiro preço combinado, em janeiro de 2000, pelos acionistas da BrT era de US$ 750 milhões. Meses depois, a TI teria fechado acordo com a Telefônica por US$ 850 milhões - no fim, ficou em US$ 800 milhões.

A investigação na Itália é uma das principais cartas que o banqueiro Daniel Dantas - preso pela Operação Satiagraha, mas libertado por liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) - diz ter contra os seus desafetos. Em mais de uma oportunidade, seu advogado Nélio Machado frisou a importância que a defesa de Dantas dava ao inquérito. Machado questionou a imparcialidade do Procuradoria da República no Brasil, ao supostamente ignorar depoimentos dados na Itália, incriminando desafetos do banqueiro.

Nas 371 páginas da denúncia, a procuradoria de Milão lista centenas de pessoas espionadas pelo esquema, que seria comandado por Giuliano Tavaroli, ex-chefe da segurança de Telecom Itália - políticos, empresários, banqueiros na Itália e de outros países. Ao todo, 34 pessoas foram denunciadas, das quais 8 acusadas de espionagem no Brasil.

Aqui, os espiões teriam invadido e-mails de agentes da Kroll e da executiva Carla Cico, ex-presidente da BrT indicada para o cargo por Dantas. Também foram espionados os e-mails do Grupo Opportunity, da BrT, de advogados e jornalistas italianos.

MANDO

No processo de Milão não foi apurada a suposta espionagem feita pela Kroll, a mando de Dantas, contra seus desafetos e autoridades brasileiras, alvo em 2004 da Operação Chacal, da Polícia Federal. "Isso por causa do princípio da territorialidade. Crime cometido no Brasil não pode ser punido na Itália", disse o presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone, Wálter Maierovitch.

Segundo a apuração de Milão, o grupo de Tavaroli teria interceptado e-mails e pago propina para ter acesso a informações confidenciais. Eles teriam fraudado relatório produzido pela Kroll, a pedido de Dantas. O objetivo seria plantar provas contra o banqueiro e a Kroll, que negam a espionagem. Por esses crimes, além da Tavaroli, foi denunciado o ex-chefe de segurança da TI na América Latina, Angelo Jannone.

Além dos 34 acusados, a Telecom Itália e a Pirelli foram denunciadas, com base na lei italiana sobre responsabilidade administrativa de empresas por crimes cometidos por funcionários. Eles pagariam propina a policiais e agentes do serviço secreto italiano para obter acesso a bancos de dados. Marco Tronchetti Povera, ex-presidente da TI, não foi denunciado.

Em nota, a Telecom Itália informou que colabora com a Justiça, se considera vítima no caso e vai processar todos os que causaram danos ao grupo. O Estado procurou os advogados de Dantas, mas não obteve resposta.