Título: BC endurece e juro sobe 0,75 ponto
Autor: Pereira, Renée; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2008, Economia, p. B5

Na terceira alta do ano, Copom fala ?em promover tempestivamente a convergência da inflação? para as metas

Flavio Leonel e Nalu Fernandes

A deterioração nas expectativas de inflação para este ano e para 2009 fez o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar em 0,75 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic), para 13% ao ano. Foi a segunda maior alta promovida pelo comitê no governo Lula - a primeira ocorreu em 25 de fevereiro de 2003, de 25,5% para 26,5% ao ano.

Em sintonia com o resultado, os diretores do BC carregaram no tom do tradicional comunicado divulgado após a reunião e demonstraram desconforto com a alta dos preços. "Avaliando o cenário macroeconômico e com vistas a promover tempestivamente a convergência da inflação para a trajetória de metas, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13% ao ano sem viés", destacou o BC, na terceira alta do atual ciclo de aperto monetário, iniciado em abril.

A decisão surpreendeu o mercado financeiro. Embora alguns economistas acreditassem numa alta de 0,75 ponto porcentual, a maioria apostou em 0,50 ponto. Com a intensidade maior, os economistas prevêem revisões nos números da economia, inclusive na taxa de crescimento econômico para 2009. Eles acreditam que o BC deverá manter o ritmo de elevação dos juros nas próximas reuniões (são mais três neste ano), mas preferem aguardar novas sinalizações na ata que será divulgada semana que vem.

De qualquer forma, a atitude mais rígida apresentada no comunicado já demonstrou que o BC vai fazer de tudo para que a inflação fique dentro da meta, destacou o economista da Modal Asset Management, Tomás Fonseca Goulart, que apostava em 0,5 ponto. "Os diretores sinalizaram que estão bastante comprometido com a missão de não deixar os índices acima da meta de 6,5% este ano. Por isso, tiveram uma atuação mais forte para não sofrer constrangimentos depois."

Na avaliação do estrategista do Banco Santander, Constantin Jancso, a alta acima do esperado diminui as chances de o BC reduzir o aperto monetário nos próximos meses. "Diante da decisão de ontem teremos de rever nossas expectativas de crescimento da atividade econômica no próximo ano, que agora deve ficar abaixo dos 3,5% previstos anteriormente."

O volume de investimentos diretos também tende a arrefecer um pouco, assim como o consumo. "Mas o investment grade (grau de investimento) conseguido pelo País pode amenizar o efeito. Isso porque os investidores estrangeiros olham mais a expectativa de crescimento num período de dez anos ou mais. Não no curto prazo", destaca o economista do Banco Espírito Santo (BES), Flávio Serrano. "Acredito que o volume de investimento vai arrefecer, mas não despencar."

Para o economista-chefe do Banco WestLB do Brasil, Roberto Padovani, a decisão mostra que o BC está preocupado com a inflação no curto prazo e optou por um efeito mais rápido da política monetária sobre o movimento de alta observado nos indicadores de inflação em 2008. "A estratégia do BC foi antecipar os efeitos da política monetária e coordenar também as expectativas de inflação da melhor forma possível", disse Padovani, que fazia parte da corrente de analistas que apostavam no 0,5 ponto.

Questionado sobre como poderia ficar a configuração dos ajustes na Selic nas próximas reuniões agendadas para 2008, o economista respondeu que, depois da decisão de ontem, o mais provável é o Copom promover mais um aumento de 0,75 ponto porcentual na reunião de setembro. "Pelo menos no próximo encontro, deve vir mais uma alta de 0,75 ponto. Depois, acredito que o BC possa voltar aos aumentos de 0,50 ponto porcentual."

Apesar de ter contrariado boa parte do mercado, a decisão do Copom não foi considerada equivocada pela maioria dos analistas. O diretor de pesquisa do RBC Capital Markets, Nick Chamie, acredita que a alta foi correta, principalmente levando em consideração que o BC elevou o juro em 0,50 ponto no último encontro e, mesmo assim, as expectativas de inflação para 2009 avançaram para 5%. Ele espera que a ata a ser divulgada semana que vem reassegure que a política continuará buscando manter expectativas e inflação corrente ancoradas.