Título: Indústria pede corte de gasto público
Autor: Rehder, Marcelo; Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/07/2008, Economia, p. B7

Para empresários, redução das despesas do governo ajudaria o Banco Central a conter a alta da inflação

O novo aumento da taxa básica de juros (Selic) reforçou a crítica dos empresários de que o governo deve acelerar o corte de gastos públicos. Segundo eles, essa seria uma medida alternativa para conter a inflação sem prejudicar a perspectiva de crescimento nos próximos meses. "De que adianta subir os juros se o governo não controla os gastos públicos?", questionou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf.

Para ele, no desentendimento entre as políticas monetária e fiscal do governo, quem sofre são os menos favorecidos. "Para combater o vírus da inflação não se pode usar um único tratamento", afirmou. "Há outros antídotos que não apenas a alta de juros, que impede o crescimento, gera desemprego e prejudica a sociedade."

Segundo o presidente da Fiesp, o impulso inflacionário que atinge a economia do Brasil neste momento é conseqüência de um vírus que adoece nações em todo o mundo. "Não podemos, porém, ignorar o perigo de que se torne uma epidemia em nosso país."

Na sua avaliação, seria mais eficaz se a gestão das políticas monetária e fiscal fossem compartilhadas e sua coordenação exercida de maneira adequada, o que não é a realidade. "De um lado, temos uma política fiscal expansionista caracterizada pelo crescimento continuado do gasto público, que, neste ano, deve aumentar 15%, incentivando a demanda interna. De outro, uma política monetária restritiva que adota alta seqüencial na taxa de juros - que já é uma das mais elevadas do planeta - como a única saída capaz de frear a expansão do consumo e do investimento."

DOSE CAVALAR

Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Abram Szajman, o crescimento voltará a ser medíocre em 2009. "Está claro que a inflação é uma doença que precisa ser controlada, mas o remédio não pode ser apenas a elevação dos juros, e muito menos numa dose cavalar que ameaça matar o paciente, em vez de curá-lo." Segundo ele, o recomendável seria "mais cortes nos gastos públicos e menos volúpia por juros na estratosfera".

A elevação da Selic em 0,75 ponto porcentual foi um exagero, na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), João Claudio Robusti. "O Copom só olha a inflação do passado", afirmou, argumentando que os últimos indicadores de inflação estão registrando quedas. "Cerca de 85% dos componentes do IGP-10 mostram desaceleração nos seus preços".

O presidente do Sinduscon lamentou a decisão, afirmando que o governo poderia ter mantido a taxa básica, intensificando o esforço de cortar despesas correntes para investir no aumento da produção. "Com isso, ele criaria mais rapidamente as condições para baixar a taxa de juros no futuro próximo."

CICLO PERIGOSO

Na mesma linha, o presidente da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio RJ), Orlando Diniz, disse que o aperto monetário será ineficiente, caso seja mantido o nível atual de gastos públicos. "Sem disciplina fiscal, o governo pode levar o País para um ciclo perigoso e o torna ainda mais vulnerável à pressão inflacionária pela qual passa todo o mundo."

Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, o aumento dos juros não deve provocar, no curto prazo, efeito drástico nas vendas do setor - que cresceram 30% no primeiro semestre -, mas no médio prazo pode ter algum efeito, já que o custo do financiamento ficará maior. Ele defende, porém, a necessidade da "sintonia fina" dos ajustes feitos pelo Banco do Central para evitar o processo inflacionário.