Título: Na ressaca do Copom, Bonespa cai 3,34%
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2008, Economia, p. B1

Com ambiente externo ruim, bolsa atinge o menor nível desde janeiro

O Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) não resistiu à conjunção de más notícias no mercado mundial ontem e despencou 3,34%, para 57.434 pontos, menor nível desde janeiro deste ano. No ambiente doméstico, os investidores amanheceram sob forte ressaca por causa da decisão mais agressiva do Comitê de Política Monetária (Copom), no dia anterior, de acelerar para 0,75 ponto porcentual a alta da taxa Selic, para 13% ao ano.

No decorrer do dia, o mau humor na Bovespa foi reforçado pelo movimento mundial de queda provocado por dados negativos da economia mundial. Na Europa, as bolsas tiveram forte recuo por causa das notícias de desaceleração econômica na região .

No Reino Unido, as vendas no varejo referentes ao mês de junho registraram a maior queda mensal desde o início do acompanhamento do indicador, em 1986. Na Alemanha, o índice de sentimento empresarial caiu pelo quarto mês consecutivo, para o menor nível desde setembro de 2005.

As notícias do mercado americano acompanharam o tom negativo. Segundo o Departamento de Trabalho americano, os pedidos de auxílio-desemprego tiveram aumento de 34 mil, para 406 mil pedidos, o maior nível desde setembro de 2005. A previsão dos economistas era de aumento de 14 mil pedidos.

Não bastasse o dado bem acima das expectativas, a divulgação de alguns balanços de empresas azedou ainda mais o humor dos investidores, destacou a economista da Tendências Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro. A Ford, por exemplo, anunciou prejuízo de US$ 8,7 bilhões no segundo trimestre de 2008 e recuo de 13% na receita.

Para completar o quadro americano, as vendas de imóveis usados caíram 2,6% em junho, para uma taxa anualizada de 4,86 milhões, segundo a Associação Nacional de Corretores. ¿Ontem, os americanos não conseguiram criar uma única boa notícia para o mercado¿, disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Resultado disso foi uma queda de 1,97% na Nasdaq; de 2,43% no Índice Dow Jones; e de 2,31% no S&P 500.

A Bovespa acompanhou Wall Street durante todo o dia, mas intensificou o recuo no fim do pregão. Nem os dados positivos sobre emprego divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conseguiram animar os investidores.

O desempenho da bolsa paulista foi influenciado especialmente pelo forte movimento das ações de Petrobrás e Vale, que sofreram mais com a saída de investidores estrangeiros, destacou o analista da Hencorp Commcor Corretora Marco Forgione. Ele lembra que as duas empresas têm forte participação no Ibovespa. ¿Qualquer queda mais acentuada derruba o índice.¿ No pregão de ontem, as ações ordinárias (ON)da Petrobrás caíram 5,02% e as preferenciais (PN), 5,1%. No caso da Vale, não foi diferente. As ONs caíram 6,45% e as PNAs, 6,27%.

A explicação para esse recuo é que há muitos fundos carregados de commodities na carteira. Com os prejuízos que estão sendo divulgados no exterior, os administradores decidem se desfazer dos papéis aqui no Brasil, onde a Bovespa ainda acumula ganhos em dólar em um ano, explicam especialistas do setor. Além do petróleo, várias commodities recuaram ontem.

O mercado acionário também refletiu a decisão do Copom de elevar a Selic para 13% ao ano. Isso porque juros maiores significam crescimento econômico menor, investimento mais curto e, portanto, resultados menos favoráveis das empresas com negócios no Brasil.

¿O ajuste feito quarta-feira nos juros certamente vai influenciar o PIB do próximo ano. Isso mexe com a decisão de investimento¿, disse Gonçalves, do Banco Fator.

COLABOROU CLÁUDIA VIOLANTE