Título: Meirelles avisou Lula de alta do juro
Autor: Vera Rosa Graner, Fábio
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/07/2008, Economia, p. B4

Encontro foi na terça-feira, primeiro dia da reunião do Copom: `Vamos fazer o que tem que ser feito¿, disse Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que a alta de 0,75 ponto porcentual nos juros básicos da economia foi ¿absolutamente necessária¿ para segurar o aumento dos preços e evitar que a inflação chegue a dois dígitos em 2009. Lula conversou com o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, na terça-feira - no primeiro dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) - e foi informado de que era preciso acelerar o ritmo de alta dos juros. Não resistiu. Ao contrário: deu todo apoio à medida.

¿Vamos fazer o que tem de ser feito¿, disse o presidente. A preocupação do Palácio do Planalto é de que a inflação volte a atazanar a economia e provoque perda da renda do trabalhador. Pelas análises apresentadas por Meirelles a Lula, se os juros não começassem a subir de forma mais veloz agora, a escalada de preços e a retração econômica teriam maior impacto sobre o País em 2010, ano de eleição presidencial.

Sem esconder o interesse em eleger seu sucessor - ou ¿sucessora¿, como costuma brincar, numa referência à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT) -, Lula já avisou que fará de tudo para a economia não desandar.

Em mais de uma ocasião, garantiu aos ministros mais íntimos que não medirá esforços para não pôr a perder as principais conquistas de seu governo - a estabilidade da economia e o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres - justamente no último ano de mandato, às vésperas da eleição.

Considerado pelo Planalto como ¿o pior dos mundos¿, esse cenário poria o governo na defensiva e daria discurso à oposição em plena campanha. É por esse motivo que Lula prefere enfrentar agora a medida impopular do aperto monetário - apesar da proximidade das eleições municipais, em outubro - a correr o risco de ver tudo ir por água abaixo perto da disputa presidencial. A maior dor de cabeça, hoje, está relacionada ao preço dos alimentos, às incertezas internacionais e suas conseqüências sobre o Brasil.

Pragmático, o presidente não deu ouvidos nem mesmo às ponderações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, apreensivo em relação à alta dose dos juros. Na avaliação de Mantega, o aumento da Selic em 0,75 ponto porcentual - e não em 0,5, como defendia - pode pôr em risco o crescimento da economia em 2009. Em conversas reservadas, porém, Lula foi taxativo: se alguém tivesse alternativa melhor para debelar a inflação, que não o ¿remédio amargo¿ acima da dose esperada, deveria apresentar medidas detalhadas, com ¿começo, meio e fim¿.

De qualquer forma, a subida de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros provocou desconforto no Ministério da Fazenda. Mantega considera que o movimento do BC foi ¿surpreendente¿ e vai acompanhar os desdobramentos da medida no mercado financeiro, checando a reversão das expectativas inflacionárias.

O receio de Mantega é que a carga de juros leve o crescimento de 2009 a um nível abaixo de 4%. Isso poderia provocar interrupção no ciclo de investimentos e reeditar o padrão ¿vôo de galinha¿, em que períodos de forte expansão são seguidos de grande desaceleração.

O BC demonstra confiança de que o aperto vai desacelerar o crescimento para entre 4% e 4,5% e devolver a inflação para o centro da meta em 2009. Se isso ocorrer, o terreno estará preparado para novo crescimento da economia em 2010, com inflação baixa. Cenário ideal para Lula, que pretende não só fazer o sucessor, mas deixar o governo com popularidade em alta, para retornar ao poder em 2015. E também para Meirelles, que tem ambições eleitorais: quer concorrer ao governo de Goiás.