Título: Déficit externo chega a US$ 17,4 bi
Autor: Nakagawa, Fernando; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2008, Economia, p. B1

Resultado do 1º semestre é o pior desde 1947. Remessa de lucros de multinacionais cresceu 93,6%, destaca o BC

O Brasil amargou no primeiro semestre o pior resultado das contas externas desde o início da série histórica, em 1947. De janeiro a junho, o conjunto das transações de comércio, serviços e rendas com o exterior produziu déficit de US$ 17,4 bilhões. Isso quer dizer que um volume recorde de dólares deixou o Brasil por meio dessa conta.

Um dos fatores destacados pelo Banco Central para explicar o forte déficit externo foi o crescimento das remessas de lucros e dividendos das multinacionais a suas sedes. De janeiro a junho, somaram US$ 18,99 bilhões, valor 93,6% maior que em igual período de 2007.

Além disso, a contribuição da balança comercial tem diminuído. No semestre, o saldo ficou em US$ 11,34 bilhões, 44,8% inferior ao do mesmo período de 2007. Isso ocorre porque as importações têm crescido com o dólar fraco e a demanda interna aquecida. Para piorar, as viagens internacionais avançam e o déficit do turismo saltou 148,5%, para US$ 2,63 bilhões.

Apesar da forte deterioração nas contas externas, o BC avalia que o resultado não preocupa porque a entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED), voltado para a produção, tem compensado os números negativos. "O déficit é perfeitamente financiável", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Ele citou a entrada de US$ 30,43 bilhões de IED nos últimos 12 meses, mais que suficiente para cobrir o déficit de US$ 18,1 bilhões do período. Nos semestre, no entanto, o investimento somou US$ 16,7 bilhões e foi menor que o déficit de US$ 17,4 bilhões.

Para o BC, o ideal é analisar o déficit em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e sua evolução em relação à média histórica. Dessa forma, o resultado dos 12 meses até junho soma 1,32% do PIB, muito longe do pior déficit da série: 4,82% em agosto de 1999. Segundo Altamir, o déficit externo médio de 1970 a 2007 foi de 2,1% do PIB.

Para reforçar a visão otimista, Altamir citou países com perfil de risco semelhante ao do Brasil, como Índia e Colômbia, que têm déficit maior. "Se compararmos com economias semelhantes, estamos bem abaixo." O BC também considera que a desaceleração da economia, já prevista pelo mercado, deve por si só pôr um freio na escalada do déficit externo.

A professora de economia da Unicamp, Daniela Prates, discorda de que o déficit em relação ao PIB é o mais relevante para avaliar as contas. "Normalmente, acompanha-se os dados em dólar. A comparação com o PIB não é o ideal porque o tamanho da economia é calculado em moeda local." Sobre os números, Daniela diz que "ainda não foi acesa a luz amarela". "Para 2008 e 2009, as reservas devem compensar o déficit. Mas, a partir de 2010, a situação pode piorar."