Título: Brasil troca apoio por etanol
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2008, Economia, p. B7

Governo espera queda das barreiras ao combustível

A França alerta que dificilmente aceitará a proposta que a União Européia (UE) apresentou ao Brasil para permitir a criação de uma cota para a exportação do etanol do País. O Brasil espera obter melhores condições para a exportação do etanol como pagamento por sua colaboração na tentativa de fechar a Rodada Doha. Nos últimos dias, parte do cálculo brasileiro para aceitar o pacote que estava sobre a mesa incluía o fato de que o País ganharia uma cota para suas exportações de etanol ao mercado europeu e uma redução de tarifas no mercado americano.

Com a UE, Amorim anunciou que a negociação caminha em um "bom sentido" e os dois governos tinham avançado nos debates. Conforme o Estado antecipou, Bruxelas aceitou estabelecer uma cota ao etanol brasileiro, fato confirmado ontem pelo gabinete da comissária de Agricultura da UE, Mariann Fischer Boel. Bruxelas chegou a oferecer 1,4 milhão de toneladas em dez anos, mas o governo alertou que o volume seria insuficiente. Alguns dias depois, apresentou novos números que começam a deixar o setor privado mais satisfeito. Pela nova proposta, a cota estaria indexada pelo consumo futuro europeu, o que permitiria um incremento nas exportações nos próximos anos.

Mas os números não foram bem recebidos pela França. Para Paris, o volume proposto pela Europa seria exagerado e afetaria a capacidade de o setor local competir com o produto brasileiro. Ontem, diplomatas franceses passaram horas avaliando os números para estimar o impacto para seus produtores. O resultado não foi positivo.

Ontem, americanos e brasileiros ainda deram o pontapé nas negociações para a redução das tarifas americanas ao etanol, ponto que a Casa Branca sempre resistiu. "Estamos negociando", disse o embaixador Roberto Azevedo, negociador-chefe do Brasil. A Casa Branca mantém tarifa de US$ 0,54 por galão de etanol, o que impede as exportações brasileiras.

O chanceler Celso Amorim não disfarçava que o entendimento na Rodada Doha estaria condicionado à inclusão do etanol no pacote. O Brasil foi o primeiro país a acenar positivamente ao plano da OMC de liberalização que acabou sendo aceito por americanos e europeus.

Mas, em troca, membros do governo não escondem que precisavam ganhar benefícios por adotar uma postura construtiva na Rodada, se distanciado das posições extremistas de Índia, Argentina, África do Sul e outros emergentes.