Título: Co-réu com Pitta, Kassab rejeita ser enquadrado como ficha-suja
Autor: Macedo, Fausto; Almeida, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2008, Nacional, p. A12

Prefeito alega que já foi absolvido pelo Tribunal de Justiça, mas Ministério Público apresentou recurso

Depois de atacar a petista Marta Suplicy por fazer parte da lista de candidatos com processos na Justiça, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teve ontem de se explicar por ser co-réu em ação por supostas irregularidades quando era secretário da gestão Celso Pitta (1997-2000). A ação civil pública acusa Kassab e Pitta de terem publicado, com recursos públicos, anúncios em jornais em defesa de supostos "interesses pessoais".

Kassab foi absolvido em maio do ano passado, mas o Ministério Público (MP) entrou com recurso extraordinário. "O TJ (Tribunal de Justiça) já julgou improcedente e isso já está superado", disse ontem o prefeito e candidato à reeleição. "Eu não tenho nenhuma ação." A existência do processo foi revelada pelo portal UOL.

Sobre o recurso do MP, Kassab esquivou-se: "O recurso significa ?alguém vai entrar?, mas isso não significa nada." Após visita a um mutirão no Hospital Campo Limpo, zona sul, o prefeito rechaçou a possibilidade de que seu nome possa fazer parte da lista de candidatos com "ficha suja", divulgada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Kassab ficou de fora da lista porque o TJ não incluiu a ação entre as que correm por improbidade administrativa - pelo critério da AMB, são "fichas-sujas" os candidatos alvos de ações penais ou por improbidade.

A lista da AMB foi usada como munição para o ataque mais pesado de Kassab sobre Marta até agora. Ele, que há meses insistia no discurso de que faria campanha propositiva, sem ataques, distribuiu durante a semana 120 mil panfletos com o título "Sujou", referência direta à adversária. "É uma questão de transparência. A campanha precisa levar informação ao eleitor, deve ser propositiva e de alto nível. Não é panfleto, é material de campanha", rebateu.

Quanto à possibilidade de uso da lista em debates, o candidato disse que, "em princípio" o material não condiz com o foco "propositivo" de sua campanha. Já sobre o uso por parte dos adversários da ação que ainda tramita, Kassab resumiu: "O eleitor vai saber que eu não tenho nenhuma condenação, mas meus adversários têm."

Marta não foi condenada no processo que responde no Supremo Tribunal Federal (STF), por suposto crime previsto na Lei de Licitações (8.666/1993). Paulo Maluf, do PP, foi condenado em primeira instância em um dos sete processos a que responde - quatro ações penais e três ações por improbidade.

Ontem, questionada sobre o processo contra seu adversário, a ex-prefeita contra-atacou: "A lista é um equívoco e para mim trouxe prejuízos. Mas o eleitor não é bobo e sabe que eu fui incluída de forma inadequada e injusta. O que mais acusou agora aparece nessa mesma lista." A candidata preferiu ignorar o fato de que Kassab não consta da lista da AMB - ele pode entrar se a entidade enquadrar o processo a que ele responde na categoria de improbidade administrativa.

Geraldo Alckmin, do PSDB, desembarcou ontem cedo de uma viagem de dois dias a Bogotá, na Colômbia, e seguiu direto para Paraisópolis - favela com 80 mil habitantes, 8% abaixo da linha de miséria, 15 mil analfabetos - , onde retomou sua campanha e declarou que é "a favor da transparência absoluta", ao ser indagado sobre o índex da AMB. Mas fez uma ressalva: "Desde que as coisas sejam bem esclarecidas, do que se trata, o que é, se cabe recurso, aí não vejo nenhum problema."

Questionado sobre a possibilidade de Kassab ser incluído na lista dos magistrados, o ex-governador enfatizou: "Cabe à AMB analisar o que deve ou o que não deve fazer. Kassab não é nosso adversário, respeitamos, é de um outro partido e se Deus quiser vamos estar juntos lá na frente."

Sobre críticas de Marta a seu governo no Estado, Alckmin retrucou: "É uma boa notícia, porque quando adversário começa a criticar é sinal que começa a ter uma preocupação maior, então é um bom sinal."