Título: Avanço da aids desacelera, mas afeta mais pobres e mais jovens
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2008, Vida&, p. A17

Desde 2001, número de novos casos por ano caiu cerca de 10%, aponta relatório da Unaids

A cada dia de 2007, pelo menos 7,4 mil pessoas no mundo foram infectadas pelo vírus da aids. Praticamente todas em países pobres. A metade, jovens entre 15 e 24 anos. Os números, divulgados ontem pelo programa das Nações Unidas para Aids (Unaids) são comemorados por representar uma pequena queda nos casos em comparação com anos anteriores. Mas a epidemia, que já contaminou 33 milhões de pessoas no mundo, continua com a mesma face: atingindo cada vez mais pobres e cada vez mais jovens.

Desde 2001, o número de novos casos por ano caiu cerca de 10%. Foram 3,1 milhões de infecções naquele ano contra 2,7 milhões em 2007. ¿Há o que comemorar na redução do avanço da epidemia, mas ainda há muito pelo que lutar. A maior parte das metas, especialmente relativas ao tratamento, não foram alcançadas¿, avalia o representante da Unaids no Brasil, Pedro Chequer.

Continua sendo na África Subsaariana - a região mais pobre do mundo - que se concentram a maior parte das pessoas com HIV. Entre os novos casos, 1,9 milhão foram registrados naquela área. Cerca de 6% da população da região está contaminada pelo vírus da aids.

Em alguns países, como a Suazilândia, a prevalência chega a 23% da população de 15 a 24 anos. Mesmo na África do Sul, o país com melhores condições de vida da região, 17% da população nessa faixa etária tem o vírus. ¿Isso traz conseqüências sérias do ponto de vista econômico e social. É a população economicamente ativa que está contaminada¿, diz Chequer.

O número de mortes causadas pela doença também caiu um pouco: de 2,1 milhões em 2006 para 2 milhões em 2007. Reflexo, diz a Unaids, do aumento do número de pessoas sendo atendidas por terapias anti-retrovirais. Atualmente, cerca de 3 milhões de pessoas recebem os medicamentos em todo o mundo. Apesar do aumento de 45% do atendimento na África Subsaariana, ainda assim o atendimento no mundo representa só 31% do necessário.

Na América Latina, onde 0,6% da população tem HIV, 390 mil pessoas são atendidas, 62% do necessário. Dessas, cerca de 180 mil são brasileiros. Fora o Brasil - pioneiro no atendimento universal no mundo - apenas México, Argentina, Cuba, Chile e Uruguai têm programas que podem ser considerados universais.

Uma das boas notícias do relatório deste ano é o crescimento do uso de preservativos em todo o mundo, ao qual a Unaids credita boa parte da queda nas novas infecções. Mesmo na África, onde as principais políticas têm sido baseadas na abstinência - graças ao financiamento americano dos programas, que adota essa linha -, o uso de preservativos subiu em 16 dos 21 países da região subsaariana onde a infecção é mais alta. As pesquisas recentes mostram que 27% dos homens nesses países e 33% das mulheres entre 15 e 24 anos estão usando preservativos. ¿Ao contrário do que se tem dito, são os preservativos que estão ajudando a controlar a epidemia, e não outras ações¿, afirmou Pedro Chequer.

ESTABILIDADE NO BRASIL

No Brasil, a epidemia de aids está estabilizada em cerca de 30 mil novos casos por ano desde 2000. De acordo com Eduardo Cunha, coordenador-adjunto do programa de DST/Aids do Ministério da Saúde, o número é alto, mas tem mostrado uma tendência de queda.

O País tem o que a Unaids considera uma epidemia ¿concentrada¿ - ou seja, que afeta menos de 1% da população e ainda está mais focalizada nas populações mais vulneráveis. A preocupação no País ainda se concentra nesses grupos, como homossexuais, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo. ¿Precisamos ter também uma preocupação com as populações de áreas de difícil acesso, como na Amazônia e no sertão nordestino¿, afirmou Chequer.

NÚMEROS

7,4 mil pessoas por dia foram infectadas pelo HIV em 2007. Isso representa 2,7 milhões de novos casos

33 milhões de pessoas, aproximadamente, vivem com HIV hoje no mundo

30 mil novos casos são registrados por ano no Brasil

600 mil brasileiros, estima-se, estão infectados pelo HIV

ALERTAS

Estabilização: o relatório da Unaids alerta que a epidemia está estabilizada em níveis ¿inaceitavelmente altos¿, com 33 milhões de pessoas vivendo hoje com o HIV

Infecções: a taxa de novas infecções pelo HIV caiu, mas ainda segue crescendo em alguns países, como o Quênia

Mulheres: o porcentual de mulheres que vivem com HIV permanece estabilizado em 50% e segue aumentando em alguns países

Prevenção: apenas pouco mais da metade dos países segue estratégias de prevenção. Na América Latina as atividades de prevenção representaram 15% do gasto. A Unaids recomenda foco em prevenção entre grupos mais vulneráveis

Jovens: somente 40% dos jovens do sexo masculino e 38% das meninas têm conhecimento consolidado sobre como se prevenir contra o HIV; a meta é chegar a 95% em 2010

Tuberculose: pouquíssimas pessoas com aids e tuberculose recebem remédios para as duas enfermidades