Título: Agricultor evita queixa e pede atenção aos problemas internos
Autor: Aragão, Marianna
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2008, Economia, p. B8

Representantes do setor também querem que País faça acordos bilaterais

Representantes do setor agrícola apontam acordos bilaterais e investimento em produtividade como o caminho após o fracasso das negociações de Doha. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, o término infrutífero da Rodada não é o ¿fim do mundo¿ para o setor.

Segundo ele, a indústria deve pouco aos acordos multilaterais. ¿Precisamos avançar para superar questões como a da febre aftosa¿, diz Camargo. Vencer barreiras sanitárias em países com alto potencial de importação deve ser o principal passo do Brasil agora para alavancar o agronegócio, acredita.

Segundo ele, um exemplo da relevância dessa medida é o mercado japonês, que tem potencial de importação de 1,2 milhão de toneladas. O País não vende para o Japão por questões sanitárias. ¿A cota oferecida pela União Européia durante as negociações para receber tarifas de importação menores foi de 300 mil toneladas¿, explicou.

O ex-ministro da Agricultura e presidente do Conselho do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Rodrigues, acredita que o fracasso da Rodada é um golpe para as organizações multilaterais. ¿O grande perdedor é a própria OMC (Organização Mundial do Comércio), que se mostrou incapaz de resolver essas questões¿, afirmou.

Para Rodrigues, o Brasil foi um bom negociador. ¿Não acho que tenhamos feito nada errado¿, disse. Sem Doha, ele avalia que o País deve continuar a investir em aumento de competitividade e em acordos bilaterais. ¿O crescimento das exportações brasileiras nos últimos dez anos se deu por causa da eficiência da nossa agricultura e não por acordos bilaterais ou multilaterais¿, observou. ¿Temos de continuar fazendo a lição de casa.¿

CONTINUIDADE

O presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Fábio Meirelles, defende a continuidade das discussões de acordos multilaterais. ¿Temos elementos para continuar a discuti-los em outros fóruns.¿ A entidade enviou dois técnicos para acompanhar as mesas em Genebra.

Segundo Meirelles, o posicionamento adotado por China, Estados Unidos e Índia nos últimos dias da reunião dificultou o entendimento final. ¿Foi altamente decepcionante, pois o Brasil faz sua agricultura de forma sólida e produtiva. Fica difícil enfrentar um mercado que subsidia o produtor.¿