Título: 'Se não sair acordo, valeu o sacrifício'
Autor: Nossa, Leonencio; Rattner, Jair
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2008, Economia, p. B5

Lula deixa escapar pessimismo, mas garante que `até o último milésimo de segundo¿ acredita em acordo na OMC

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que acreditará até o último milésimo de segundo num acordo entre países emergentes e desenvolvidos para salvar a Rodada Doha. Em entrevista após participar do 7º Encontro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), no entanto, ele deixou escapar o pessimismo. ¿Temos de lutar para que as coisas aconteçam, se não acontecerem, valeu o sacrifício.¿

Na conversa, Lula desautorizou o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que causou polêmica ao declarar que a rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC) não ia dar em nada. ¿A fala do Stephanes não tem nenhuma influência na OMC¿, disse, deixando claro que a missão de negociar pelo governo brasileiro é do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

¿Para mim, ele (Amorim) disse estar otimista¿, ressaltou. ¿Imagine se um negociador sentar à mesa já derrotado.¿ Depois, o presidente reformulou a resposta sobre a expectativa em relação à Rodada, negando ter demonstrado pessimismo. ¿Se eu disser que não pode acontecer, a manchete - como as pessoas que fazem manchetes nos jornais são muito inteligentes - vai ser: presidente reconhece que pode não acontecer¿, disse, em tom de ironia.

¿Quando vão comprar um automóvel usado vocês sabem a negociação que é necessária. Agora, transforme essa necessidade numa negociação com 133 países¿, comparou Lula. ¿Tenho a certeza de que a inteligência humana obrigará os governantes a terem consciência de que é preciso um acordo na Rodada Doha.¿

O presidente avaliou que os países estão mais perto do ponto de equilíbrio. Segundo Lula, os Estados Unidos, que concederam US$ 8 bilhões de subsídios no ano passado, podem elevar esse valor para US$ 12 bilhões ou US$ 13 bilhões. E lembrou que o país já chegou a conceder US$ 40 bilhões. ¿Qual a dificuldade? Os países emergentes passaram décadas sem ter crescimento econômico e à medida que eles começam a crescer, não podem aceitar uma negociação que breque o crescimento econômico.¿

A uma pergunta sobre a oferta da União Européia de aumentar a compra do etanol do Brasil em troca de maior acesso de seus produtos industrializados no mercado brasileiro, Lula disse que ainda precisa avaliar o ¿conjunto da obra¿. ¿Não queremos privilegiar um setor em detrimento de outro.¿