Título: UE propõe cota a etanol. Brasil acha pouco
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2008, Economia, p. B5

Segundo governo, proposta piora a situação atual

A União Européia (UE) ofereceu uma cota mínima para o etanol brasileiro. Com isso, o produto passou a fazer parte da agenda da Rodada Doha. Mas não da forma que o Brasil desejava. O Itamaraty rejeitou um acordo, alegando que a cota seria apenas metade do que o Brasil quer. A rejeição do chanceler Celso Amorim irritou os europeus.

¿Ainda estamos negociando. Não há um acordo ainda¿, disse Amorim. Segundo o governo, a criação da cota não é o ideal, pois representa um retrocesso em relação à tarifa atual.

O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, sugeriu a redução da atual tarifa de 40% para cerca de 10%. Mas com um limite para as exportações brasileiras. O cálculo seria baseado no consumo futuro do produto no mercado europeu. Em 2020, a cota para o Brasil chegaria 1,75 bilhão de litros de etanol. O volume é considerado insignificante, correspondendo a 5% do consumo do biocombustível na Europa.

¿Em um encontro bilateral, eu (Mandelson) e a comissária de Agricultura, Marianne Fischer Boel, deixamos claro que estamos dispostos a negociar um acordo que poderia dar acesso às exportações do Brasil¿, afirmou Mandelson em seu blog. ¿Surpreendentemente, dada a importância da questão para Brasília, Amorim pareceu ignorar o valor de tal proposta para o Brasil¿, disse.

Para André Nassar, diretor do Icone, a proposta não atende às demandas do País. ¿A Europa terá um consumo de 35 bilhões de litros em 2020. Queremos ao menos 10% desse mercado. O que os europeus nos oferecem é exatamente metade disso¿, afirmou.

Para o Ministério da Agricultura, a própria criação de uma cota seria um retrocesso, já que a medida pedida seria a redução de tarifas, e não o estabelecimento de limites de exportação.

Mandelson deixou claro, porém, que não teria como oferecer mais e países como Itália e França alertaram que se recusariam a dar um mandato que ultrapasse esse limite.

O volume dado pelos europeus, porém, é apenas um pouco maior que o que a UE já havia oferecido em 2005 ao Mercosul. Há três anos, a oferta falava de 1 milhão de toneladas e o Brasil também a recusou.

Na avaliação de Mandelson, a cota significaria um comércio de US$ 1 bilhão por ano ao Brasil. A França já havia alertado que não era o momento de tratar do assunto.

O Estado revelou que Portugal, Suécia e Finlândia chegaram a falar numa possível barganha com o Brasil no etanol. A UE ofereceria certo acesso a seu mercado e, em troca, ganharia um corte de tarifas em um setor industrial no Brasil.