Título: Governo não tem mais onde cortar gasto, diz Lula
Autor: Nossa, Leonencio; Rattner, Jair
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/07/2008, Economia, p. B10

Presidente descarta aperto fiscal adicional para ajudar o Banco Central a conter a alta dos preços

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem cortes de despesas na máquina pública para reforçar o controle da inflação. Em entrevista após o 7º Encontro da Comunidade de Língua Portuguesa (CPLP), ele disse que a equipe econômica tomou as medidas necessárias no combate ao aumento de preços. ¿Nós não temos mais o que cortar de gastos do governo¿, disse. ¿Fizemos os ajustes que deveríamos ter feito.¿ Lula também defendeu a autonomia do Banco Central (BC).

O presidente disse que não é possível saber se a elevação da taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto porcentual nesta semana fará ou não com que a inflação caia para baixo do teto (6,5%) da meta ainda em 2008. ¿Eu não sei quando vai ficar abaixo do teto, o que sei é que a inflação não vai voltar.¿

Para ele, o Brasil é o país emergente que melhor controla a inflação, ressaltando que Índia, China e Rússia enfrentam mais dificuldades em segurar os preços. ¿Graças a Deus, o Brasil é o país em que menos tem crescido a inflação, entre os emergentes¿, disse. ¿Nossa economia está muito segura.¿

Lula destacou a proposta do governo do Fundo Soberano do Brasil, uma espécie de poupança contra possíveis crises, com investimentos no mercado. ¿Fizemos um fundo soberano que é uma mistura de fundo soberano com superávit primário e aumentamos em 0,5 ponto o superávit primário (para 4,3%)¿, disse. ¿As medidas estão sendo tomadas. Obviamente, não é possível um governo ficar anunciando com antecipação o que vai fazer amanhã, depois de amanhã e nos mês que vem.¿

Ao responder a perguntas sobre os efeitos dos juros altos, ele admitiu que o aperto monetário ¿pode¿ reduzir o crescimento econômico. ¿O objetivo do BC quando aumenta os juros é diminuir a demanda.¿ O presidente acrescentou que é preciso agora fazer com que a oferta cresça. ¿Estamos tentando fazer essa combinação, ao mesmo tempo em que a gente precisa dizer para a sociedade brasileira que o consumo não pode ser infinitamente superior à capacidade de oferta do País.¿

Lula defendeu a autonomia do BC para definir a Selic. O presidente evitou endossar a tese do vice-presidente da República, José Alencar, de que o Copom, com esse aumento de 0,75 ponto, teria exagerado na dose. Ele negou que a medida, considerada amarga pelos críticos, está sendo antecipada para evitar desgastes políticos em 2010, ano da sucessão presidencial.

¿O BC está lá para fazer a política monetária¿, disse. ¿Se a diretoria (do BC) entender que deve tomar essa medida, o que queremos é que a posição assumida cause os efeitos que deve causar na economia brasileira.¿

Ele voltou a enaltecer o fato de que grandes investimentos estão sendo feitos na economia brasileira. ¿Se acontecer o que estou imaginando que pode acontecer será o melhor dos mundos: a economia crescendo e a inflação controlada.¿