Título: Amorim teme mais subsídio nos EUA
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/07/2008, Economia, p. B1

Sem acordo na Rodada Doha, o chanceler Celso Amorim adverte que a principal conseqüência negativa para o Brasil é o aumento dos subsídios agrícolas americanos nos próximos anos, já que ficarão sem novas regras. O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, alerta que o Brasil será um dos países que sairão perdendo com o fracasso da OMC. Em declaração ao Estado, o francês reconheceu que o colapso do processo será sentido por todos os países emergentes. ¿O Brasil também perde muito com o fracasso.¿

Cálculos apontavam o Brasil como um dos principais ganhadores com a abertura de mercados e a redução de subsídios que poderia resultar do acordo. Para Amorim, o principal problema do fracasso será a manutenção dos altos subsídios agrícolas dos Estados Unidos. Mas, segundo ele, não será o Brasil que mais sofrerá.

¿Teremos de abrir disputas legais contra esses subsídios¿, disse o ministro. O Congresso americano aprovou recentemente uma nova lei que manterá um volume bilionário de subsídios aos produtores. Sem um acordo, esse volume não terá limite e, pela lei, o aumento pode ocorrer sem ser questionado. Hoje, o volume está baixo diante dos preços altos das commodities. Mas, se o mercado mudar, a distribuição de subsídios ao algodão, soja, leite, carne e milho podem explodir. Para o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, a nova lei é ¿a mais reacionária na história dos EUA¿.

Várias disputas podem ser levadas aos tribunais nos próximos anos, para tentar solucionar entraves no comércio. ¿O Brasil tem como pagar essas disputas e advogados caros. Mas outros países não têm essas condições. Esses vão de fato perder com o colapso da Rodada¿, disse Amorim. ¿São os pequenos países, principalmente os africanos, quem mais sofrerão com o colapso.¿

Ontem, o chanceler confirmou mais uma vez que o Brasil vai abrir um processo nos tribunais da OMC contra a sobretaxa aplicada ao etanol no mercado americano. A esperança do País era conseguir que o tema entrasse num pacote de acordo. Mas, com o adiamento da conclusão da Rodada por alguns anos, a saída será o litígio. ¿Vamos adiante com o caso.¿

Para Amorim, a chance de se retomar o processo nos próximos meses, como sugeriram entre outros o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e Lamy, é remota. Em sua avaliação, não haveria mais como tentar um acordo no governo de Bush. ¿Eu diria que a retomada nos próximos meses tem apenas 1% de chance. O mais certo é de que se leve dois ou três anos para que o processo volte a ser considerado seriamente.¿ Em nota da ONU, Ban e Lamy ¿sublinhavam a necessidade de que a ruptura das negociações não dure muito tempo e sejam retomadas antes que o ano termine¿.