Título: Lista de espera de transplantes no Rio será refeita
Autor: Cimieri, Fabiana; Leite, Fabiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2008, Vida&, p. A19

Ministério da Saúde, por sua vez, vai reeditar normas para tentar melhorar a organização das filas no País

A Secretaria Estadual de Saúde anunciou ontem que vai refazer os exames de sangue para calcular o índice de Meld de todos os 1.077 pacientes na lista de espera por um transplante de fígado no Rio. Após se reunir por mais de cinco horas com o diretor de Atenção Especializada do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, o secretário estadual de Saúde, Sergio Côrtes, disse que uma auditoria concluída em maio apontou distorções na fila que facilitariam as fraudes supostamente cometidas pela equipe do cirurgião Joaquim Ribeiro Filho, preso anteontem em operação da Polícia Federal.

Segundo Côrtes, a Central Estadual de Transplantes começará hoje a entrar em contato com os pacientes, para que eles façam a coleta de sangue nas Unidades de Pronto-Atendimento do Estado. Os exames serão centralizados no laboratório Noel Nütels. Antes, poderiam ser realizados por qualquer laboratório público ou privado. Segundo denúncia do Ministério Público, esses resultados eram fraudados para priorizar pacientes de Ribeiro Filho que aceitavam pagar pelo órgão.

Por determinação do Ministério da Saúde, os eventuais transplantes que apareçam para pacientes da lista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), onde Ribeiro operava, poderão ser feitos no Hospital-Geral de Bonsucesso. A direção do HUCFF enviou ontem um ofício para a secretaria informando que abriu sindicância para apurar as denúncias e afastou os demais indiciados da equipe médica durante 15 dias.

REORGANIZAÇÃO

Até o fim deste ano, o Ministério da Saúde deverá reeditar normas que regulam o Sistema Nacional de Transplantes com o objetivo de melhorar a organização das filas. No caso do transplante de fígado, cuja espera é organizada pelo critério da gravidade dos casos, o alvo serão disparidades na fila dos doentes. Hoje, pacientes com câncer são beneficiados, aguardando menos do que os que sofrem de outras patologias que demandam o procedimento, como lesões causadas pela hepatite C.

Isso porque, quando o critério de gravidade foi introduzido, há dois anos, para substituir a ordem cronológica, os portadores de tumores receberam pontuação especial, muito à frente de outras indicações.

Outro ponto serão as desigualdades regionais da espera na fila do fígado - um paciente de São Paulo, onde está a maior fila e há casos muito mais graves, pode esperar mais do que um do Nordeste. ¿Não são mudanças radicais, mas para tornar o sistema mais homogêneo¿, opina Paulo Massarollo, integrante da câmara técnica que assessora o ministério e discute a mudança.

¿O sistema é bom, contempla a todos e é controlado. A investigação no Rio mostra isso¿, completou. ¿O critério é justo. Temos de defender o sistema de transplantes¿, corroborou Silvano Raia, pioneiro no transplante de fígado. Sérgio Mies, do Hospital Dante Pazzanese, de SP, alerta que é necessária fiscalização contínua. ¿É importante o controle do que o médico faz.¿