Título: Mantega demite Rachid, mais um da era Palocci
Autor: Graner, Fabio; Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/08/2008, Economia, p. B6
Secretário da Receita Federal será substituído por Lina Maria Vieira, que coordenava Estados do Nordeste
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tirou ontem de sua equipe um dos últimos remanescentes da era Antônio Palocci: o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid. Em seu lugar ficará a atual superintendente da 4ª Região Fiscal da Receita (Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), Lina Maria Vieira, indicada pelo secretário-executivo da Fazenda, Nelson Machado. A demissão foi publicada no Diário Oficial de ontem. O decreto, assinado pelo presidente Lula e pelo ministro Guido Mantega, afirma que o secretário da Receita foi exonerado ¿a pedido¿.
Fontes próximas de Rachid disseram ao Estado que a demissão teve ¿natureza política¿, na linha de uma ¿limpeza étnica¿ nos quadros da Fazenda. Rachid teria passado por um período de ¿fritura¿. Segundo a fonte, Machado teria assumido negociações com os sindicatos dos auditores, contingenciado recursos da Receita para dificultar a gestão do órgão e até realizado reuniões com secretários-adjuntos do Fisco sem que Rachid soubesse. A Fazenda não comentou.
Fontes disseram também que o ex-secretário ficou com muita mágoa pela forma como foi demitido. Ele foi avisado na noite de quarta-feira. Assessores de Mantega negam o conflito. Mas dizem que a nova titular terá a missão de ¿trabalhar em mais harmonia¿ com as demais áreas da Fazenda.
Uma das principais queixas de técnicos é que a Receita é muito fechada e há dificuldades para obter informações. Essa reclamação vinha sendo feita não só por outros ministérios, como Planejamento, mas também por funcionários da Fazenda. ¿O ministro quer uma secretaria que apresente alternativas para as emendas de desoneração tributária¿, disse uma fonte.
O principal motivo da mudança é que Rachid era o último integrante da equipe que assumiu no início do governo Lula, segundo essa mesma fonte. Além disso, é considerado no PT um sucessor do pensamento mais conservador do ex-secretário Everardo Maciel, que se opunha à proposta dos petistas de tornar o Imposto de Renda mais progressivo.
Com a saída de Rachid, só outro integrante da era Palocci, Bernard Appy, ligado ao PT, continua com Mantega, embora tenha sido removido da estratégica Secretaria de Política Econômica para uma secretaria extraordinária que vai cuidar de reforma tributária.
A saída de Rachid, dizem assessores de Mantega, só não ocorreu antes porque a Receita passou por um processo de incorporação do setor de arrecadação da Previdência Social.