Título: Mídia ignora avanços, critica Lula
Autor: Thomé, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2008, Nacional, p. A14

Ele diz a intelectuais que usará rede nacional toda vez que atenção for para escândalo, não para feitos da gestão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou ontem, em encontro com intelectuais, que a imprensa dá mais atenção aos escândalos do que aos feitos do governo, segundo relatou um dos presentes. E prometeu usar o recurso do pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para dar visibilidade aos programas do governo federal.

Lula citou especificamente o lançamento do programa Mais Alimentos, em 3 de julho. Para o presidente, o anúncio dos incentivos à agricultura familiar ficou escondido entre as notícias de ¿mais um escândalo¿, de acordo com um dos participantes do encontro. Sempre que isso acontecer, acrescentou um dos presentes, Lula disse que vai mandar um ministro em cadeia nacional para divulgar os programas.

O presidente reuniu-se com 47 intelectuais na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Estavam presentes Oscar Niemeyer, o escritor Adauto Novaes, o psicanalista Joel Birman, o sociólogo Emir Sader, a economista Maria da Conceição Tavares, reitores de quatro universidades, entre outros.

Ao contrário do que houve em São Paulo, onde também se reuniu com intelectuais em junho, Lula não iniciou a reunião com uma preleção - abriu espaço para que os intelectuais fizessem perguntas.

Durante a sabatina, que durou três horas, o presidente foi questionado sobre educação, Rodada Doha, relações com a Colômbia, Previdência - que Lula disse que fecharia o ano com superávit, arrancando aplausos -, entre outros assuntos.

Sobre o fracasso das negociações sobre a liberalização do comércio na Rodada Doha, na Suíça, Lula voltou a atribuir o impasse aos atuais processos eleitorais nos EUA e Índia. O presidente provocou risos ao dizer que telefonaria para os chefes de governo dos dois países para reclamar. ¿Para acertar acordos nucleares vocês se entendem. Mas não avançam nas negociações agrícolas¿, brincou.

Para Emir Sader, o encontro do Rio foi mais produtivo que o de São Paulo porque o presidente passou mais tempo respondendo às questões (foram 18 perguntas). ¿Foi bom para o intelectual que apóia ou que critica o governo ter idéia do que está acontecendo no País.¿

O sociólogo disse que os encontros tiveram outra diferença: ¿Em São Paulo, a ministra Dilma Rousseff foi apresentada mais explicitamente como a sucessora. Aqui no Rio, ele disse que o nome à sucessão era segredo de Estado¿, comentou. A ministra da Casa Civil também teve de responder a algumas perguntas e disse que a questão energética está resolvida.