Título: Assessor de Lula explica ajuda a rebelde
Autor: Domingos, João; Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2008, Internacional, p. A20

Gilberto Carvalho diz que apenas prestou `apoio humanitário¿ a Medina

O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que nunca concordou com os métodos usados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e garantiu ter prestado apenas uma ¿ajuda humanitária¿ em 2006 ao ex-padre Francisco Antonio Cadena Collazos, conhecido como Oliverio Medina e considerado ¿embaixador¿ do grupo guerrilheiro no Brasil.

Ele disse que só assim pode entender a inclusão de seu nome em um e-mail trocado entre Medina e Raúl Reyes, líder guerrilheiro morto em março num ataque do Exército colombiano contra seu acampamento no Equador. O nome de Carvalho foi citado na reportagem da revista colombiana Cambio que vincula ministros e assessores do governo às Farc.

Ex-seminarista,Carvalho contou que ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi procurado por representantes da Igreja com um documento assinado pelo procurador da República, Luiz Francisco Fernandes Souza, relatando a péssima situação carcerária de Medina, detido no Presídio da Papuda.

O argumento usado para convencer Carvalho a interceder no caso era que Medina, com problemas de saúde, não tinha direito a banhos de sol e estava detido com presos comuns. ¿Eu liguei, então, para a Secretaria de Direitos Humanos. Foi só isso¿, afirmou o assessor.

¿As Farc tiveram lá atrás a oportunidade de fazer a escolha pela luta democrática, como o PT fez, a Frente Ampla do Uruguai fez, Evo Morales e Hugo Chávez fizeram. Mas elas acabaram completamente isoladas¿, comentou o chefe de gabinete.

Silvino Heck, assessor de Carvalho também citado no e-mail, confirmou que a única proximidade entre o governo Lula e a guerrilha colombiana foi o contato de entidades de direitos humanos sobre as condições de detenção de Medina: ¿Foi apenas um gesto de apoio a um preso.¿

`BRIGA INTERNA¿

A reportagem da Cambio envolveria uma briga interna pelo poder na Colômbia, concluiu ontem o presidente Lula depois de três reuniões com assessores diretos e integrantes do Ministério das Relações Exteriores. A informação foi dada ao Estado por um auxiliar de Lula que participou das reuniões.

Segundo o auxiliar, funcionários do Itamaraty disseram que haveria uma disputa entre o presidente Álvaro Uribe e o ministro da Defesa, Juan Manuel Santos, o mais provável candidato à sucessão presidencial. Como Uribe pode conquistar o direito de disputar o terceiro mandato, os planos de Santos (cuja família é dona da Cambio) ficariam prejudicados. Além disso, informações de bastidores indicam que Uribe quer concluir uma negociação com as Farc, levando à sua dissolução. Para diplomatas brasileiros, isso fortaleceria Uribe, que não teria dificuldades para obter o terceiro mandato.