Título: PF apura nova denúncia contra médico
Autor: Figueiredo, Talita
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2008, Vida&, p. A24

Inquérito investiga suposta venda de fígados para transplantes negociada por Ribeiro Filho; seu advogado nega

A Polícia Federal do Rio instaurou ontem um novo inquérito para apurar suposta venda de fígados para transplantes que seriam realizados pelo médico Joaquim Ribeiro Filho, preso desde quarta-feira na Operação Fura-Fila. O ex-chefe da equipe de transplantes do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e ex-coordenador do Rio Transplantes foi denunciado sob acusação de peculato (desvio de recurso público por servidor), supostamente por mentir sobre a real condição do órgão para implantá-lo em pacientes de seu interesse, sem observar a ordem de prioridade da lista única estadual.

Depois da prisão do médico, a PF começou a ser procurada por pacientes que teriam sido preteridos e recebido proposta de pagamento para realizar o transplante. A defesa de Ribeiro Filho nega.

De acordo com o delegado Giovani Celso Agnoletto, o caso mais grave seria de uma mulher, que não teve seu nome revelado. Ela afirmou, segundo a PF, que o médico teria oferecido implantar um fígado em seu irmão doente por R$ 150 mil em uma clínica particular. Ele era paciente de Ribeiro Filho no Hospital Universitário e morreu antes de receber o órgão. Em depoimento, a mulher disse que foi ¿convidada¿ pelo médico para ir a seu consultório particular. ¿Quando estiveram na hora e no dia marcados, e no transcorrer da suposta consulta, cujo valor cobrado foi de R$ 400, o médico, em seu consultório, perguntou se o paciente tinha plano de saúde. Como a resposta foi negativa, o médico disse de pronto que a única solução para salvar a vida do paciente era pagar R$ 150 mil. Desesperada, a irmã do paciente ofereceu um imóvel em Alcântara (região metropolitana do Rio) no valor de R$ 60 mil, mas o médico se mostrou reticente e disse que `o imóvel ele não pegava¿, só pagamento em espécie¿, explicou o delegado, em nota. A transação não foi realizada, segundo ele, pela falta do dinheiro para o pagamento.

O advogado do médico, Paulo Freitas Ribeiro, negou a suposta oferta. ¿A história é absolutamente fantasiosa. Ele está exposto à execração pública. Temos diversos pacientes que se ofereceram para testemunhar em favor do Joaquim afirmando que nunca receberam oferta de pagamento. Negamos essa informação veementemente¿, afirmou.

O advogado disse que vai aguardar a decisão final da juíza federal Andréa Cunha Esmeraldo, que atua interinamente na 2ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, sobre o pedido de habeas corpus. Anteontem, ela negou o pedido liminarmente, mas solicitou mais informações a respeito dos motivos do decreto de prisão, concedido pelo juiz da 3ª Vara Federal Criminal, Lafredo Lisboa.

Ribeiro Filho foi investigado entre 2003 e 2007. Segundo a denúncia do procurador da República Marcello Miller, ele teria forjado o estado clínico do fígado, dizendo que era ¿marginal¿ (no limite da prestabilidade) para que fosse recusado por pacientes que estavam no topo da lista e ele pudesse ¿oferecê-lo¿ aos pacientes que pagavam pelo órgão. Foram identificados três casos. Em dois deles houve transplante. O terceiro não foi realizado porque o fígado foi negado pelo Rio Transplante, que suspeitava do diagnóstico errado. Na perícia, constatou-se que, ao contrário do que afirmara o médico, o fígado era sadio.